A depressão é um transtorno mental frequente. Globalmente, estima-se que 350 milhões de pessoas de todas as idades sofrem com esse transtorno. O número representa 4,4% da população do planeta. Depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma muito importante para a carga global de doenças. Mais mulheres são afetadas pela depressão que homens. Existem vários tratamentos eficazes para a doença.
A condição é diferente das flutuações usuais de humor e das respostas emocionais de curta duração aos desafios da vida cotidiana. Especialmente quando de longa duração e com intensidade moderada ou grave, a depressão pode se tornar uma séria condição de saúde.
A carga da depressão e de outras condições de saúde mental está em ascensão no mundo. Uma resolução da Assembleia Mundial da Saúde aprovada em maio de 2013 exigiu uma resposta abrangente e coordenada aos transtornos mentais em nível nacional.
Segundo a OMS o Brasil tem a maior taxa de pessoas com depressão na América Latina, uma média que supera os índices mundiais. São 11.548.577 brasileiros que sofrem de depressão. 5,8% da população nacional é afetada pela doença, estima a OMS. A taxa média supera a de Cuba, com 5,5%, a do Paraguai, com 5,2%, além de Chile e Uruguai, com 5%. No caso global, as mulheres são as principais afetadas, com 5,1% delas com depressão. Entre os homens, a taxa é de 3,6%.
- Em seguida, aparecem Cuba (5,5%), Barbados (5,4%), Paraguai (5,2%), Bahamas (5,2%), Uruguai (5%) e Chile (5%).
- A nível continental, o Brasil aparece atrás apenas dos Estados Unidos, onde segundo a OMS, 5,9% da população sofre de transtornos de depressão.
Um estudo epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde revela que nos próximos anos até 15,5% da população brasileira poderá sofrer com depressão ao menos uma vez ao longo da vida. Uma soma de fatores explica a alta incidência de depressão entre os brasileiros, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil:
- Dificuldade de acesso a tratamento de qualidade na rede pública de saúde;
- Forte estigma social ainda existente no país em relação aos transtornos mentais;
- Falta de campanhas de prevenção, projetos, ações, investimentos e politicas públicas voltadas à educação e cuidados sobre a saúde mental, desde à infância até a vida adulta
A OMS aponta que o número de pessoas que sofrem de doenças mentais comuns está aumentando no mundo inteiro, principalmente em países de baixa renda. E alerta que, apesar da depressão atingir pessoas de todas as idades e nível de renda, o risco de alguém ficar deprimido aumenta com a pobreza. Por exemplo, o desemprego associado a fatos traumáticos da vida, como a morte de uma pessoa próxima, o fim de um relacionamento, debilitação física, doenças físicas, pode, não apenas, causar transtornos mentais graves, mas também levar a pessoas à práticas autodestrutivas como o consumo de álcool ou drogas, automutilação e até o suicídio.
A depressão é a doença mais incapacitante do mundo
De acordo com a OMS, a depressão é a doença que mais contribui com a incapacidade de ser um membro produtivo da sociedade, no mundo, em cerca de 7,5% da pessoas com esse diagnóstico. Ela é também a principal causa de mortes por suicídio, com cerca de 800 mil casos por ano. Isso representa quase 1,5% de todas as mortes no mundo. Entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio tem sido a segunda maior causa de morte, considerado uma epidemia.
“A pressão sobre os jovens hoje talvez seja maior do que em qualquer outra geração”, disse Dan Chisholm, médico e professor no Departamento de Saúde Mental da OMS. “Outro grupo alvo são as mulheres que estão grávidas ou acabaram de dar à luz. Depressão neste período é extremamente comum. Cerca de 15% das mulheres sofrerão não apenas da tristeza, mas de caso diagnosticado de depressão”.
Os aposentados também são mais suscetíveis: “Quando nós trabalhamos de parar ou perdemos nossos parceiros, nos tornamos mais frágeis, mais sujeitos a doenças físicas e desordens como a depressão”.
Por que há tantas pessoas com depressão no mundo?
Existem inúmeras explicações potenciais para a mudança nas taxas de depressão. Estudos interculturais podem ser úteis para identificar prováveis culpados. As características gerais e específicas da modernização estão correlacionadas com um risco mais elevado. Uma correlação positiva entre o PIB per capita de um país, como medida quantitativa de modernização, e o risco de um transtorno de humor ao longo da vida tendeu à significância (p = 0,06). O bem-estar mental e físico estão intimamente relacionados.
O fardo crescente das doenças crónicas, que surgem de uma incompatibilidade evolutiva entre os ambientes humanos passados e a vida moderna, pode ser fundamental para o aumento das taxas de depressão. O declínio do capital social e o aumento da desigualdade e da solidão são candidatos a mediadores de um meio social depressiogénico.
As populações modernas estão cada vez mais sobrealimentadas, subnutridas, sedentárias, com deficiência de luz solar, privadas de sono e socialmente isoladas. Cada uma dessas mudanças no estilo de vida contribui para problemas de saúde física e afeta a incidência e o tratamento da depressão. A revisão termina com um apelo a futuras investigações e intervenções políticas para enfrentar esta crise de saúde pública.
E agora, o que fazer com a depressão?
A primeira coisa a se refletir é que desde que o mundo é mundo, o sofrimento é a regra e a felicidade exceção. O cérebro se adaptou à luta pela sobrevivência e elaborou ferramentas para lidar com grandes períodos de tormenta. Entretanto, nestes tempos pós-modernos, onde o hedonismo, o ter é mais do que ser, a felicidade se tornou a regra e o sofrimento a exceção, pelo menos nas demonstrações virtuais.
O cérebro com suas ferramentas primitivas não sabe diferenciar o virtual do real, e embora fosse aparelhado para aguentar o sofrimento, se vê imbuído, numa busca psíquica continua por prazeres imediatos. Por que o mundo está cada vez mais volátil e tem pressa, enquanto o cérebro humano ainda busca a resposta para questões práticas e mais simples como virar a direita ou esquerda.
A segunda coisa a se pensar é: a quem interessa o avanço da medicalização da tristeza? Por que há tantos diagnósticos de depressão e crises de ansiedade, baseados apenas na narração de sintomas, sem a observação sistemática do contexto familiar, cultural, social, familiar e de vida da pessoa? A quem interessa isso? Ao enriquecimento ilícito, corruptor e corruptível, da indústria farmacêutica, que todos anos fatura bilhões com a venda de remédios.
A medicalização é o processo pelo qual são deslocados para o campo médico problemas que fazem parte do cotidiano das pessoas. Desse modo, fenômenos de origem social e política são convertidos em questões biológicas tratáveis com medicalização. E é essa medicalização da vida cotidiana da criança, tem provocado uma verdadeira “epidemia” de diagnósticos, ao transformar sensações físicas ou psicológicas normais (tais como ansiedade, insônia, agitação, e tristeza) em sintomas de doenças, de transtornos, de espectros (como distúrbios do sono, TDAH, autismo, e depressão).
A medicalização é um negócio extremamente rentável e a sua associação com transtornos não se dá ao acaso. Esse movimento, político, social e econômico, que tem produzido essa epidemia de diagnósticos, gera também uma epidemia de tratamentos, que nem sempre fazem bem à saúde, principalmente aqueles que não seriam necessários.
Quem ganha com isso é a indústria farmacêutica, a qual investe na divulgação da falsa perspectiva sobre doença e doença mental, na qual a psicofarmacologia resolve todos os problemas humanos, incluindo aqueles ligados ao comportamento. Isso produz a sensação de que os sofrimentos e dificuldades da própria vida podem ser evitados ou eliminados pela via medicamentosa.
A terceira coisa a considerar é que: é possível ter uma vida qualificada psicoemocionalmente, mesmo num mundo sem qualidade de vida psicossociocultural. Buscando formas mais saudáveis de alimentação, de práticas de atividades esportivas, lúdicas, artísticas, recreativas… ao ar livre, longe de telas; buscar por informações oriundas de especialistas confiáveis, sobre saúde mental, educação parental, saúde e bem estar; manter uma socialização amistosa com amigos para além das redes sociais; montar uma rede de apoio para os momentos difíceis e tentar uma prática diária, mesmo que por alguns minutinhos, de meditação, respiração e contemplação do belo, para evitar crises de ansiedade.