A autoestima é a parte do nosso autoconceito que torna a nossa couraça emocional mais ou menos resistente. Amar a nós mesmos de forma incondicional é, sem dúvida, a pedra fundamental do bem-estar psicológico, porque embora o conceito de amor próprio possa parecer simples, é realmente mais importante do que se imagina.
É impossível ser feliz se você não amar a si mesmo. Não importa o que aconteça, o que as pessoas digam, os nossos fracassos, amar e se aceitar é o alicerce para construir uma vida cheia de satisfação, prazer e realizações. A aprovação incondicional de si mesmo é uma tarefa tão difícil que, apesar da redundância, é muito difícil encontrar pessoas que realmente se amem de verdade.
Nós não sabemos exatamente por que o ser humano, geralmente, ama tão pouco a si mesmo. Parece que tem a ver com o ego e com o desejo de se destacar do restante dos mortais. Quando queremos ser especiais ou melhores do que os outros, acabamos amargurados, pois descobrimos que também temos deficiências e limitações e, que não somos tão únicos como pretendíamos ser.
Isso faz com que o pensamento polarizado, que diz que tudo é branco ou preto, aflore em nossa mente e acabe criando em nós um diálogo interno como: “Se eu não me destaco dos demais, então não valho nada”. Portanto, a chave para ter uma autoestima saudável é não se valorizar exageradamente, e se sentir tão importante como todos os outros seres humanos.
Se olharmos para alguns distúrbios psicológicos clássicos, perceberemos imediatamente que a sua origem é muito influenciada pela falta de amor por si mesmo. Esta falta de autoestima se projetará posteriormente em crenças disfuncionais, emoções negativas e comportamentos contraproducentes que mergulham a pessoa em um círculo fechado.
Para entender melhor, veremos alguns exemplos:
As pessoas ansiosas têm muito medo do futuro. Os pensamentos são sempre catastróficos, porque acreditam que podem falhar na execução de algumas tarefas ou que algo terrível pode acontecer. É claro que por trás desse medo existe uma imensa insegurança. Elas não confiam nas suas próprias capacidades, e não acreditam que são capazes de enfrentar as adversidades sozinhas. Para quase tudo, precisam de alguém para ajudá-los: para resolverem os problemas ou para os acompanharem e, assim, reduzir o seu medo. Eles dizem a si mesmos: “Você não é bom, você sozinho não pode e não sabe, portanto, você precisa de alguém melhor do que você”.
É uma das saídas “naturais” do perfeccionismo levado ao extremo. Quando alguém é perfeccionista, acredita que deve fazer tudo sem erros. Isso nada mais é do que o resultado, como já dissemos antes, de querer ser reconhecido. É difícil decidir como agir porque é essencial que esta decisão o leve para o caminho certo; finalmente desmorona quando percebe que a perfeição desejada é inatingível.
Neste caso, a falta de autoestima é especialmente evidente. Essas pessoas acreditam que teriam muito mais valor se a sua aparência física estivesse de acordo com o ideal irrealista estabelecido pela sociedade atual. Portanto, o seu valor pessoal é colocado em um aspecto que não as agrada.
Elas não conseguem se amar enquanto o seu aspecto físico não for adequado para elas. A obsessão é tão grande, que semelhante ao que acontece no TOC, buscam uma perfeição física inventada e impossível que acaba deteriorando a sua imagem corporal de forma surpreendente: conseguem o oposto do que pretendiam.
Quando eu acredito que os outros são melhores do que eu ou que não sou digno de estima, é muito provável que me torne emocionalmente dependente e aceite determinados comportamentos da outra pessoa que normalmente não toleraria. O pensamento do dependente diz o seguinte: “Como eu não valho nada e não mereço amor, me contento com as suas migalhas e estou à mercê do que você quiser fazer comigo.”
Neste caso, a falta de amor também é bastante visível. As pessoas deprimidas veem a si próprias como “muito pequenas”, sem qualquer valor e, portanto, essa barreira retarda a implementação dos seus objetivos. Elas acreditam que não terão sucesso em nenhum empreendimento, e até mesmo chegam a um ponto onde não conseguem perceber o sentido das coisas. “Para quê?”.
Elas se sentem culpadas, miseráveis, vítimas, convencem a si mesmas de que são inúteis e de que, portanto, ninguém as valorizará.
Poderíamos citar muitos outros distúrbios: os relacionados com o controle dos impulsos como um meio de preencher os vazios internos, os de personalidade, etc. Podemos perceber facilmente que o denominador comum em todos eles é a falta de amor, e se os profissionais não trabalharem de forma eficiente a aceitação pessoal, a cura torna-se praticamente impossível, pois trabalharíamos apenas em um nível superficial.
Ter como objetivo principal a autoaceitação nos torna livres: os fracassos se tornam menos importantes, assim como a crítica ou a rejeição dos outros. Deixaremos de procurar a perfeição e nos permitiremos agir de acordo com os nossos critérios pessoais, independentemente de tudo o que nos cerca.
Texto publicado originalmente em A Mente é Maravilhosa
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