Psicologia e Comportamento

Autismo não é o fim do mundo – Marcos Mion

“Parabéns! Que legal!” é o que respondo, com um sorriso enorme no rosto, quando sou abordado por quem divide comigo o “drama” de ter seu filho diagnosticado como autista

Drama está entre aspas porque não acredito que seja. Considero uma chance única que meu filho me deu de me tornar um ser humano melhor ao acompanhá-lo num patamar elevado de valores, sentimentos e entendimento do que são as coisas que valem a pena nesta vida.

E minha resposta alegre – em contraste com a tristeza e desolação em 90% das vezes que me abordam – é para dar um choque cultural mesmo! Se sou exemplo para mais de 2 milhões de famílias diagnosticadas no Brasil, que já comecem me seguindo nesta certeza: que em 2018, num mundo inclusivo, com tanta gente lutando pelos seus direitos e o conteúdo do que é considerado normal sendo reescrito, autismo não é o fim do mundo. Mas é, sim, uma mudança de foco, de rumo e de vida!

Se você considera que cuidar de um filho especial é uma tragédia que vai destruir sua existência, seus sonhos, sua imagem de uma família perfeita, pode apostar que vai mesmo. A vida nos reserva surpresas, e está para nascer a pessoa que passou incólume por ela! O que me deixa sorridente e feliz é a sabedoria de aceitar e encarar como minha missão. Se eu ficar preso ao que poderia ter sido, se eu ficar refém do “e se…”, a vida deixa de ter brilho. Torna-se um peso difícil de aguentar.

E o autismo? O autismo é uma caixinha de surpresas! Cada vez mais aparecem casos como o do fantástico Naoki Higashida [um dos mais conhecidos escritores do Japão], um austista não verbal que por anos foi desacreditado, considerado uma pessoa social e produtivamente inválida, pois não consegue falar e, por consequência, não se comunicava de forma alguma. Imaginem uma criança cheia de tiques, com os famosos movimentos repetitivos e cadenciados característicos do espectro, e com o agravante de, quando tenta se comunicar, emite sons que fazem qualquer leigo torcer o nariz.

Tudo isso até os 13 anos, quando ofereceram a ele uma tábua de comunicação (alphabet grid), uma estrutura simples com as letras escritas. Para susto geral, ele começou a apontar letras até entenderem que formava palavras! Uma criança que nunca falou, que sempre foi considerada socialmente morta, achou uma forma de gritar e esfregar na nossa cara que o fato de ela não ser sociavelmente funcional não significa que ela seja 0% pensante, inteligente, criativa, produtiva… Pelo contrário: foi provado que ele entende tudo o que está sendo falado e acontecendo ao seu redor. Inclusive fazendo metáforas, consideradas um enorme desafio para o entendimento das crianças com autismo por serem extremamente literais. Naoki, à sua forma, mostra empatia e um alcance emocional que pessoas rasas chamariam de normal.

Normal… hahaha! O autismo está aqui para redefinir o que é normal.

Texto de Marcos Mion, publicado em Revista Crescer

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