Psicologia e Comportamento

A depressão entre os cristãos: por que os pastores estão esgotados física e mentalmente?

Uma silenciosa epidemia está assustando cientistas do mundo todo. Estima-se que só no Brasil 11 milhões (6% da população) de indivíduos sofrem com a doença já considerada o “Mal do Século XXI”, a depressão.

Estima-se que devido ao desconhecimento das pessoas sobre o tema, somente 1 em cada 4 indivíduos com depressão tem conhecimento do transtorno que o aflige e consegue buscar auxílio. Ou seja, 75% das pessoas com depressão não sabem que estão doentes e por isso sofrem sem tratamento adequado, apresentando perda da autoestima e da capacidade de se concentrar, o que leva a dificuldades profissionais e familiares.

Suicídio entre religiosos e líderes

O Instituto Schaeffer, dos Estados Unidos, chegou a pesquisar sobre a saúde mental de líderes religiosos e revelou que 70% dos pastores lutam constantemente com a depressão, e 71% estão “esgotados” física e mentalmente. Ainda de acordo com esta pesquisa, 80% dos pastores acreditam que o ministério pastoral afeta negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo.

Assim como o número geral de suicídios, os casos com vítimas que lideram igrejas também têm a depressão como principal causa. Além da doença, fatores como traições ministeriais, baixos salários, isolamento, falta de amigos e problemas conjugais também foram registrados.

De acordo com uma pesquisa da Lifeway Research, 44% dos evangélicos acreditam que o suicídio é uma “decisão egoísta” e 32% disseram que os suicidas vão para o inferno. Entretanto, nem os pastores estão imunes ao aumento das taxas de suicídio. Chuck Hannaford, psicólogo clínico que trabalha com a Convenção Batista do Sul, relevou ao The Gospel Coalition que identificou um aumento na taxa de suicídios de pastores durante seus 30 anos de prática. Ele acredita que esse número continuará a aumentar.

“Ser pastor é um trabalho perigoso”

“Especialmente em certos círculos evangélicos, onde há uma orientação teológica reducionista, você encontra pastores que veem a depressão ou processos de pensamento negativos como problemas estritamente espirituais”. A pesquisa da LifeWay descobriu que 48% dos evangélicos acreditam que a oração e o estudo da Bíblia são suficientes para alguém superar uma doença mental.

Ao mesmo tempo, o Instituto Schaeffer, aponta que “35% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 43% se dizem estressados, 34% sentem-se “sempre desencorajados”, 24% acham que seu trabalho tem efeito negativo na família e 58% dizem não ter amigos bons e verdadeiros. 50% lida com algum problema de saúde e mais da metade (52%) sentem-se incapazes de satisfazer as expectativas da igreja.

Para Hannaford, “Os pastores são muito duros consigo mesmos, muitas vezes julgando-se por pecados de omissão. Mas eles não consideram os efeitos da queda no mundo, afinal a Queda de Adão comprometeu tudo, incluindo o cérebro”.

O psicólogo que trabalha com pastores destaca que “Qualquer um de nós sabe que todos os discípulos tinham problemas, mas Jesus os recrutou assim mesmo. Olhe para os heróis do Antigo Testamento, todos eles tinham vidas bagunçadas em algum momento”.

Parte do problema é que a igreja separou o cuidado do corpo, da alma e do espírito, disse Hannaford.

“Nos dias da Reforma ou na tradição puritana, o pastor era consultado para qualquer doença e tinha um pouco de experiência em todas as áreas. No mundo moderno, o médico trata o corpo, o psicólogo trata a mente, e o pastor trata do espírito. Só que essa separação pode levar a problemas sérios, pois o espiritual, o emocional e o físico se afetam mutuamente”, avalia.

Pastores têm poucos amigos

No Brasil, o missionário Marcos Quaresma, que trabalhou com a SEPAL já tratou essa questão. Psicólogo com formação também em teologia, ele afirmou que “a causa mais comum noticiada para o suicídio de pastores e líderes, é a depressão associada a esgotamento físico e emocional, traições ministeriais, baixos salários e isolamento por falta de amigos”.

Marcos Quaresma, que trabalha com líderes há anos, diz que, via de regra, “pastores têm poucos amigos, e às vezes nenhum… Muitos querem mostrar que possui êxito no exercício ministerial. Entretanto, quando a conversa é íntima, o sofrimento se revela. Boa parte está cansada, desanimada, chateada com a igreja e com a liderança. Muitos possuem dificuldades no cuidado com a família e as finanças de alguns estão desequilibradas”. (Por  Jarbas Aragão, via Notícias Gospel)

“Muitos cristãos sofrem de depressão e não se tratam”

O psiquiatra e escritor Augusto Cury aponta a depressão como um distúrbio comum entre cristãos, mas que ainda tem muitos tabus dentro das igrejas. Em entrevista ao programa Mente Aberta, exibido pela Rede Super de Televisão, o médico afirmou que os cristãos “confundem os problemas psicológicos”.

“Infelizmente, no mundo todo, o cristianismo tem um certo preconceito com a psiquiatria e a psicologia — não são todos, mas uma boa maioria. É um conceito errado. Quando se tem um transtorno emocional, deve-se procurar um psiquiatra e um psicólogo competente. Até porque, quem não reconhece suas mazelas, suas fragilidades e seus cárceres mentais, será assombrado por eles a vida toda”.

“A maioria das pessoas são assombradas por fobias, e não apenas isso, muitos cristãos sofrem de depressão e não se tratam. A depressão é o último estágio da dor humana. Preconceito infantil, eu posso dizer, porque há bons profissionais de psiquiatria e psicologia preparados para usar técnicas adequadas”, acrescentou.

Citando Jesus como “o homem mais inteligente da história”, título de um de seus livros, Cury falou sobre a sabedoria de Cristo ao abordar os aspectos da ansiedade. “Eu, que fui um dos maiores ateus que já pisou nessa terra, fiquei espantado quando o estudei sob os ângulos da psiquiatria, psicologia, sociologia e psicopedagogia. Como esse homem antecipou dois mil anos e falou sobre ansiedade?”, questiona.

Para ilustrar o assunto, Cury destacou o versículo de Mateus 6:25, no qual Jesus disse: “Não estejais ansiosos quanto à vossa vida”. “Eu me perguntava: que homem é esse que falava de uma patologia que assombraria o ser humano na era moderna? E não apenas isso, ele falou de algumas ferramentas, dentre elas a mais importante: não antecipe o problema. Ou seja, uma pessoa que sofre pelo futuro, é escravizada pelo presente”.

Cury observa a análise de Jesus sobre o rei Salomão que, segundo ele, apresentava indícios de depressão. “Salomão tinha problemas emocionais graves, ele desenvolveu uma depressão importante. Por isso que, poeticamente e intelectualmente, ele era muito inteligente, mas emocionalmente falido”, afirmou.

Refutando a declaração de que “não há nada de novo debaixo do sol”, Cury declarou: “Ora, a vida é um espetáculo único e imperdível. Aí o homem mais inteligente da história, Jesus, faz a crítica: nem Salomão vestiu-se como o lírio dos campos. Ele estava dizendo que contemplar o belo e fazer das pequenas coisas um espetáculo aos olhos, é vital para um ser humano ser feliz”.

O psiquiatra ainda comenta que esta é a era dos “mendigos emocionais”. “Existem muitas pessoas morando em grandes condomínios e mendigando o pão da alegria. Eles não conhecem as ferramentas do homem mais inteligente da história, ainda que sejam cristãos”.

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