Texto de Fabrício Carpinejar
Mesmo quando o escritor morre, continua apanhando no país.
A estátua de Ariano Suassuna (1917-2014), obra do artista Demétrio Albuquerque, foi depredada no Circuito de Poesia, no centro de Recife (PE). Beijando o chão, tal indigente agredido, encontramos a figura de um de nossos maiores romancistas e dramaturgos, autor de “O Auto da Compadecida”. Suas mãos estão para trás, absolutamente indefeso, pasmo com a gratuidade da violência.
Como alguém pode ser contra a sua literatura? Como alguém pode derrubar uma homenagem a um escritor que nunca fez o mal? Como se indispor com um dos maiores defensores de nosso folclore? Como ferir a historia incorruptível de um realista esperançoso, que jamais trocou o oxente pelo ok?
Ele é o símbolo do amor à cultura nordestina, o avesso da tirania e das representações autoritárias.
Se o ato foi proposital, demonstra que entramos na idade das trevas. O pensamento e a arte estão sendo demonizados.
Se o ato foi inconsequente e o vândalo nem sabia quem era naquela escultura, experimentamos o apogeu do analfabetismo social.
Nenhuma das alternativas traz alívio. Ambas reforçam a ideia de repúdio sem conhecimento de causa, da arrogância sem leitura, da destruição pela destruição.
No Brasil, até as pedras inocentes estão ameaçadas.
Só me resta concordar com Ariano Suassuna: “a humanidade se divide em dois grupos, os que concordam comigo e os equivocados”.
No rio Capibaribe ao fundo, nos galopes do sonho das águas, apesar de tudo, eu posso escutar a risada altiva e orgulhosa dele, como que dizendo que as suas palavras ainda incomodam, que sua obra jamais cairá no esquecimento, que há gente que simplesmente não aguenta tanta verdade num único homem.
Texto de Fabrício Carpinejar
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