Quando uma pergunta é emitida e se espera por uma resposta positiva ou negativa, supõe-se: sim ou não. No entanto, na prática, a resposta recebida para esse tipo de questão parece dominada por outros opostos: sim e silêncio, sim e enrolação, sim e ilusão. Qual é o problema com o não afinal? Não faz parte da vida? Não é uma resposta válida? Supõe-se que quem tem coragem de perguntar está disposto a receber a melhor ou a pior das respostas.
Pior que o não é um silêncio que ignora a situação, como se nunca tivesse acontecido. Pior que o não é ver sua energia ser mascada pelo outro, mantida a postura na esperança de uma resolução. Pior que o não é a ilusão do sim, diante da ausência de uma resposta negativa. Pior que o não é a atitude ambígua. Que seja um não sei, que seja honesto.
Dizer não com sinceridade não é sinal de maldade. Ao contrário, é sinal de coragem e consideração com quem pede uma resposta para algo. É o simples reconhecimento do outro como ser humano, que se comunica pela linguagem, que pensa, que sente e que se mostrou disposto, deu a cara a tapa à receber uma resposta verdadeira. Dizer não é ser empático o suficiente para saber que tal resposta deixará o outro livre para seguir outros caminhos, para vislumbrar outras opções, outros trajetos, mesmo que seja com dor à princípio. A dor passa, a dúvida não.
A dúvida corrói. Envenena a pessoa com esperanças, medos, desilusões, uma porção de criações imaginárias para uma lacuna em branco. Um branco de nada ou um branco de uma resposta mal dada, que não se converte em ações. O não é como a morte – se supera com o luto, segue-se em frente apesar da dor. Não há nada o que se possa fazer sobre ela. A ausência de resposta, a resposta falsa ou a resposta ambígua são como pessoas desaparecidas – há sempre esperança de ter uma notícia, de um reaparecimento, além de todas as fantasias que acompanham o pensamento sobre o que pode ter acontecido com a pessoa, sobre como ela está, sobre o que aconteceu… Pensamentos de esperança e de terror se revezam como as subidas e descidas de uma montanha russa.
Há quem se isente dessa responsabilidade do que causa aos outros com a sua leviandade – “Não tenho culpa sobre as expectativas alheias”, dizem. Pois, realmente, não temos culpa da expectativa de ninguém, sempre que deixamos algo claro. Mas a verdade é que raramente alguém alimenta ilusões diante de uma posição firme, transparente e honesta. As expectativas geralmente acompanham uma atitude do outro, que não quer nem “pegar” nem “largar”.
Será que para alimentar o ego com a situação de ser solicitado a responder por si a alguém? Pelo medo de parecer uma pessoa hostil? Medo de tomar uma decisão? Ou quem sabe por imaturidade? É certo, apenas, que não responder por capricho ou responder algo mal dito é uma atitude covarde. Uma atitude de quem não se assume, não sabe o que quer, e também não quer deixar que o outro saiba. Uma atitude egoísta e mesquinha, que de tão banalizada, vem semeando entre tantos por aí o medo do risco de viver, de tentar, de se entregar. Ninguém quer acabar sendo tratado como inexistente, indigno de ser respeitado em sua dúvida, em sua demanda por uma posição do outro que se colocou, de alguma forma, em seu caminho. Duvidosos envenenados acabam por se converter em não não-dizentes.
A resistência é necessária, para não permitir-se tornar ceifador de confianças só por ter se ferido na ceifa alheia. No limite do tempo e da energia gastos com algo que não anda nem desanda, o melhor caminho, se não o único, pode ser ter que assumir o “não” do outro, negar-lhe a ceifa hesitante e executar a própria poda, dolorida, mas realizada de tal forma que novos ramos poderão crescer. Precisamos estar inteiros para seguir em frente. E então, nós negadores, encontrarmos outros negadores, que só dizem sim quando querem realmente.
“Qualquer dia desses eu deixo de ser brisa e viro tempestade. Porque a certeza de um vendaval não é pior que um vendaval de incertezas”.
Clara Dawn
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