Psicologia e Comportamento

Ansiedade: Como treinar seu EU a não sofrer por antecipação

“As pessoas estão sempre sofrendo por antecipação. O pensamento rápido demais e sem gerenciamento é responsável por esse tipo de sofrimento, que atinge qualquer um, de crianças a idosos, alunos e professores, profissionais liberais e empresários. Os melhores profissionais de uma empresa fazem velório antes do tempo. Esse tipo de profissional é ótimo para suas empresas, mas carrasco de si mesmo. Sofrem pelo futuro de maneira dramática”.

Treinar seu EU a dar um choque de lucidez em cada pensamento perturbador. Isso é um treino diário. Como já disse para magistrados, inclusive numa palestra no STF (Supremo Tribunal Federal): temos de impugnar cada ideia, cada sofrimento por antecipação, para não registrar a experiência ruim e não empulhar nossa memória com dados inúteis. Devemos pensar no futuro apenas para traçar metas. Não devemos sofrer por antecipação. Não podemos dispensar o presente, único momento que temos para ser estáveis e felizes”.

Síndrome do pensamento acelerado

“Essa síndrome diz respeito à construção do pensamento. Quando pensamos rápido demais ou em excesso, violamos o que deveria ser inviolável: o ritmo da formação de pensamentos. Isso gera consequências seriíssimas para a saúde emocional, como a ansiedade. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 20% sofrem com a depressão. A ansiedade provavelmente é sentida por 80%, de crianças a idosos. Pensar é bom, pensar com consciência crítica é ótimo, mas pensar excessivamente e sem gerenciamento é uma bomba para a saúde psíquica, para o desenvolvimento de uma mente livre e criativa. Toda vez que hiperaceleramos os pensamentos, a emoção perde em qualidade, estabilidade e profundidade. São necessários cada vez mais estímulos, aplausos, reconhecimento para sentirmos migalhas de prazer”.

Quais são os sintomas dessa doença?

“Os clássicos são acordar cansado, ter dores de cabeça e musculares, transtornos do sono e deficit de memória. Em casos mais agudos, as pessoas se aborrecem com a lentidão alheia. Ficam irritadas quando o computador demora a ligar. Ou não conseguem lidar com pessoas mais lentas do que elas. Não são capazes de parar e contemplar a paisagem, a natureza, uma flor. Não param, na varanda, para jogar conversa fora”.

Crianças também têm pensamento acelerado?

“Nós as submetemos a um trabalho intelectual escravo cada vez mais cedo. Estamos cometendo o assassinato coletivo da infância. Isso acontece em todas as sociedades modernas. Ficamos estarrecidos com armas químicas, destruição em massa, mas não nos chocamos com o assassinato da infância. Os ministérios da educação de todo o mundo estão errados ao avaliar os alunos pela assertividade de dados na prova. Se quisermos formar pensadores, devemos avaliar também a capacidade de cooperação, de debater ideias, o altruísmo, a capacidade de pensar antes de reagir, de se colocar no lugar dos outros. São esses elementos que determinarão a qualificação desses alunos e futuros profissionais. Mas a educação está pautada por bombardear a memória dos alunos com excesso de informações, em detrimento do pensamento crítico, de aprender a ser autor de sua própria história.  Os executivos do mundo inteiro são contratados por suas competências técnicas, mas 80% deles são demitidos por falta de habilidades comportamentais”.

Pensar rápido tem alguma vantagem?

“Não tem como não ser hiperpensante do jeito como vivemos hoje. Somos bombardeados com informações, e o registro na memória é involuntário. Nos computadores somos deuses, arquivamos o que queremos, quando queremos. Em nosso córtex cerebral não tem jeito, os registros acontecem sem nossa vontade. Uma criança de 7 anos hoje provavelmente tem mais informações que o imperador de Roma, no auge de Roma. O problema são os dados empulhados, que não são usados como conhecimento, o conhecimento que não é usado como experiência, e a experiência que não é usada como as funções complexas da inteligência: pensar antes de reagir, colocar-se no lugar do outro, ser resiliente, saber gerenciar o pensamento”.

Excerto de uma entrevista com Augusto Cury à revista ÉPOCA, sobre como lidar com as ansiedade. Augusto Cury estuda o cérebro humano há mais de 30 anos. Desde o final dos anos 1990, escreve livros sobre memória e construção do pensamento – misturados com uma boa dose de análise comportamental.

Portal Raízes

As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

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