Muitos escritores, de alguma forma, relataram este sentimento como defesa da alma humana. Sabiam que amor próprio é sabedoria, cuidado, respeito. É ele quem permite aprendizagem na dor e ensina o que é respeito e autocontrole. Clarice Lispector sintetizou: “Tenho meus limites. O primeiro deles é meu amor-próprio”.
Em “Lektüre für Minuten”, título em alemão da obra que reúne os principais pensamentos de Hermann Hesse, baseados nas cartas do autor, encontradas após sua morte, temos uma noção de como Hesse dissertava sobre o sentimento:”Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo”.
Seguindo a linha de pensamento de Hesse, temos Sébastien-Roch Chamfort, poeta francês que, em uma sutileza ímpar, afirmava a consequencia em desenvolver esse tipo de amor: “é pelo nosso amor-próprio que o amor nos seduz. Como resistir a um sentimento que embeleza o que temos, que nos restitui o que perdemos e nos dá o que não temos”.
No livro de Irvin D. Yalom – “Quando Nietzsche chorou”, o amor próprio é apresentado de forma filosófica, entre o diálogo entre o personagem “Nietzsche” o “Dr. Breuer”:
“Ah! Existe uma importante distinção entre nós. Eu não alego que filosofo para si, enquanto o senhor, doutor, continua fingindo que sua motivação é servir-me, aliviar minha dor. Tais alegações nada têm a ver com a motivação humana. Elas fazem parte da mentalidade de escravo astutamente engendrada pela propaganda sacerdotal. Disse que suas motivações mais profundamente! Achará que jamais alguém fez algo totalmente para os outros. Todas as ações são autodirigidas, todo serviço é auto-serviço, todo amor é amor-próprio. (…) Parece surpreso com esse comentário? Talvez esteja pensando naqueles que ama. Cave mais profundamente e descobrirá que não ama a eles: ama isso sim as sensações agradáveis que tal amor produz em você! Ama o desejo, não o desejado”.
Enfim, embora as definições sejam muitas, é o conhecimento empírico que faz o homem aprender a se defender. Desenvolver amor próprio é criar uma proteção contra sentimentos desnecessários. Implica em ser justo consigo e com os outros. E por mais clichê que possa parecer, há uma frase clássica de Henri Montherlant que deixa explícita a importância do sentimento: “Pode ferir-se o amor-próprio; matá-lo, nunca”.
Texto de Pamela Camocardi
“Amar a si mesmo é o começo de um romance para toda a vida”. Oscar Wilde