Aceita-se hoje, com a maior facilidade, o que chamo de ética da conveniência. “O bom é tudo aquilo que me favorece. O que não me favorece considero ruim”. Em vez de termos valores de conveniência que sejam sólidos, menos superficiais, portanto, menos cínicos, há uma hipocrisia que leva a esquecer que ética não é cosmética. Não é efeito de fachada.
Nessa hora, costumo lembrar um alerta valioso feito pelo Corpo de Bombeiros: nenhum incêndio começa grande, e sim com uma faísca, uma fagulha, um disparo. Isso se aplica ao campo da ética. O apodrecimento dos valores éticos positivos se inicia também com pequenos delitos, infrações, aceitações, conivências.
A expressão ‘o amor aceita tudo’ é absolutamente antiética e antipedagógica. A pessoa capaz de amar é aquela que recusa aquilo que faz mal, por isso um pai e uma mãe não pode jamais dizer ao filho: ‘porque eu te amo, então tudo aceito’. É exatamente o inverso:
Essa relação de cuidado mútuo, só nos faz crescer. Por isso esse exemplo do cotidiano tem que aparecer como sendo a recusa com qualquer situação. A ética do amor não é a ética da conveniência em que as coisas valem a partir de qualquer momento, mas uma ética que é capaz, também de dizer ’não’ ao que tem que ser recusado.
Excerto extraído do livro Educação, convivência e ética: audácia e esperança – de Mario Sergio Cortella, Cortez Editora, 2015, páginas 76/77. No vídeo abaixo você pode assistir um trechinho. Confira.
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