Seja você a favor do time Pipoca ou dos Camarotes, seja você um leitor voraz ou alguém que só quer se ‘alienar’ um pouco… O fato é que a edição do Big Brother Brasil 22 já começou. O programa estreou na última segunda-feira, 17 e, cá pra nós, todo mundo vira um pouco de comentarista de sofá sobre a vida alheia, vai!? Esta colunista, que vos escreve, não foge à regra. Bendito curso de jornalismo que me dá essa licença poética.
Mas, até aí tudo bem, né? Que atire a primeira pedra quem nunca opinou sobre alguma coisa sem ser chamado no assunto. Pois bem, como boa comentarista de BBB, caro leitor, vou dividir um acontecimento nesse texto: domingo à tarde, depois que já havia passado nos comerciais da Globo, um milhão de vezes, quem seria os participantes do Reality, liguei para uma amiga a fim de somar as primeiras impressões dela às minhas, sobre os Brothers e as Sisters.
Debatemos por bons minutos de quem havíamos gostado ou não, quem tem potencial para sair da casa com 1 milhão e meio na conta, quem despertará ranços e etc. O detalhe é que ambas somos cegas, ou seja, não vemos os participantes. E por sermos duas jovens negras, acabamos falando que o elenco deste ano é só um pouco mais do mesmo e comentamos em especial que uma participante X, por ser branca, não poderia opinar sobre certas questões raciais.
Muito bem, com a fofoca em dia e os assuntos esgotados, minha amiga e eu nos despedimos. Vida que segue. Porém, eis que hoje ela me mandou uma mensagem dizendo que a tal participante X, na verdade, é preta e que tínhamos viajado legal na maionese. E era nesse ponto que eu queria chegar. Você já parou para se perguntar o quão importante é a audiodescrição para uma pessoa cega?
Você consegue imaginar o que é estar em um ambiente e não ter a menor noção do que tem ao seu redor, de como são as pessoas? Já se sentiu perdido ou perdida em um lugar que em teoria você deveria conhecer? Posso dizer, caro leitor, por experiência própria, que ser uma pessoa cega é quase como me sentir uma estrangeira na minha pele num mundo que além de não enxergar as pessoas, não tem a menor ideia do que elas estão falando.
“Isso que dá sermos cegas”, foi o que eu respondi em tom de brincadeira para minha amiga quando ela me contou da nossa gafe. Entretanto, o problema não é nosso. Nossa deficiência é uma condição e não temos culpa de termos nascido com ela. Agora, a não inclusão, a não acessibilidade por parte da sociedade e das instituições, sim. Isso sim é uma escolha e precisa ser combatida para que o mundo seja um lugar bom para qualquer criatura.
Talvez a ação mais conhecida nesse sentido de descrever fotos e imagens em movimento para quem não enxerga, seja a #pracegover ou #pratodosverem. Criações de uma professora chamada Patrícia Braille para descrever para seus alunos o que eles não conseguiam ver e difundida principalmente nas redes sociais nos últimos anos. Não custa nada e ajuda cerca de 530 mil pessoas de acordo com o senso de 2010 do IBGE, que são cegas no Brasil.
Enquanto jovem cega que infelizmente cresceu em uma sociedade que não tem a cultura de descrever o que está acontecendo para seus membros que não conseguem visualizar a cena, digo que a cada vez que alguém resolve se descrever para mim de maneira direta e/ou também descrever o ambiente onde eu estou, sinto-me de fato incluída ao ecossistema, ao invés de apenas aceita. Pense nisso da próxima vez que for postar uma fotinha ou se apresentar de maneira pública, caro leitor. Pode fazer isso por esta mera colunista do seu site de comportamento preferido? Não me importo. Risos. Por Juliana Santelli, estudante de jornalismo da PUC-Goiás e articulista do Portal Raízes.
#pratodosverem Descrição da foto de capa: rosto de uma mulher branca, loira com cabelos lisos. Ela está com os olhos vendados com um faixa branca daquelas tipo gases que usa para fazer curativos, por baixo da faixa há flores vermelhas e alaranjadas que sobressaem da venda. A mulher está séria.