A ideia do “ciclo da vida” agrada muitas pessoas independentemente da fé. Em poucas palavras, é vida se transformando em vida — a morte fica em segundo plano nessa floresta com árvores vivas de pessoas mortas.
Ao invés de túmulos de frio concreto, urnas 100% biodegradáveis que acomodam cinzas humanas e sementes de uma espécie arbórea. Essa é a proposta do cemitério em Nova Lima, município localizado na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Batizado de “BioParque”, o modelo propõe um novo conceito de vida após a morte.
Transformar cinzas em adubo para árvores não é exatamente uma novidade. Mas quando se fala em morte, há muitos tabus. Talvez por isso a opção ainda não tenha se popularizado.
Propondo “mudar a percepção sobre a morte”, três companhias brasileiras estão dispostas a quebrar essa barreira. São elas: as empresas Primaveras, de São Paulo; Grupo Parque, de Alagoas, e a Prevenir, de Minas Gerais, que se uniram à Seven Capital para criar o BioParque.
Autointitulado “empreendimento que une a ressignificação da morte à consciência ecológica”, o espaço é exclusivo para cerimônias e plantio. Ou seja, não realiza a cremação ou outros serviços funerários. Isso difere de iniciativas similares já existentes no Brasil onde os cemitérios e crematórios dedicam uma ala para este fim.
Essa ideia de transformar a tristeza da partida em um novo ciclo de vida já é adotada parcialmente no Cemitério e Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. Outro projeto interessante, criado por designers italianos, propõe enterrar corpos dentro de cápsulas biodegradáveis. Acima da estrutura, uma árvore nativa deve ser plantada. Uma terceira ideia virou lei no estado de Washington, nos EUA. Por lá, foi legalizada a compostagem humana que permite que o corpo seja enterrado com palhas, lascas de madeira e alfafa: criando as condições perfeitas para se decompor.
De onde surgiu a ideia
Diferente do projeto no Brasil que faz a cremação antes do plantio, o projeto Capsula Mundi, dos designers italianos Anna Citelli e Raoul Bretzel, é uma cápsula orgânica e biodegradável que converte diretamente corpos em nutrientes para as árvores.
A dupla de designers explica que a ideia é criar cemitérios inteiros cheios de árvores em vez de lápides. Terrenos de baixa manutenção que requerem irrigação mínima (se houver), quando maduros, fornecerão habitat novo e protegido para a fauna silvestre e servir como sumidouros de carbono e purificadores de ar naturais para áreas urbanas próximas.
Cada cliente pode escolher sua árvore favorita
Presumivelmente, se escolhermos uma árvore frutífera, podemos colher algumas frutas e fazer geleia. Se for um bordo, podemos batê-lo para o xarope… Seriam formas ímpares de se lembrar dos mortos e continuar o “círculo da vida”, de fato.
Os designers apontam em seu site que o processo contorna a necessidade de caixões, economizando recursos valiosos. Os corpos seriam deixados em um estado natural, sem substâncias químicas de embalsamamento para envenenar o solo e as águas subterrâneas. É certamente sustentável e não deveria provocar arrepio, mas provoca, porque ainda não nos enxergamos como sementes.
O Capsula Mundi usa corpos inteiros, não restos cremados. Tecido esticável encapsula corpos dobrados em posição fetal e moldados em uma esfera tipo ovo, com uma muda sobre o bulbo humano plantado.
É a transformação do cemitério numa floresta de memórias. Sem derrubar árvores para fabricar caixões
Famílias e amigos podem visitar a floresta de árvores vivas de pessoas mortas, cuidar delas e descansar à sombra. Mas nada de piqueniques, apenas devoção.
O projeto é ousado e mexe em tradições seculares, por isso ainda não foi colocado em prática. A Itália tem leis restritas sobre enterros. Eu achei a solução incrível. Transformar cemitérios em lugares cheios de árvores (vida) é uma excelente maneira de resgatar boas lembranças das pessoas que se foram.
Fontes de pesquisa: Capsula Mundi; Green Prophet