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A vacina de Oxford testada no Brasil: Quão perto estamos da esperança?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou nesta sexta-feira que a vacina ChAdOx1 nCoV-19, produzida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca, é a “mais avançada” do mundo “em termos de desenvolvimento” e lidera a corrida por um imunizante contra a Covid-19. A fórmula está sendo testada no Brasil e na África do Sul após testes bem sucedidos no Reino Unido. A declaração foi dada na sexta-feira (26/06) por Soumya Swaminathan, cientista da OMS.

De acordo com a cientista, uma outra vacina idealizada pela empresa Moderna também está em desenvolvimento avançado. Os dois projetos estão entre as mais de 200 vacinas que estão sendo desenvolvidas contra o novo coronavírus. Destas, 15 já entraram em fase de testes clínicos em humanos…

Fase 3 de testes no Brasil

A vacina da AstraZeneca e da Universidade de Oxford está na fase final de desenvolvimento. Os exames sorológicos em voluntários que poderão testar a vacina contra a Covid-19 começaram na terça-feira (23). Esta é a terceira fase de testes da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford.

São homens e mulheres, com idades entre 18 e 55 anos, e que não foram infectados pelo novo coronavírus. A maioria dos participantes são profissionais de saúde. O Grupo Fleury realizará pelo menos 2 mil diagnósticos para Covid-19 do tipo sorológico para a seleção dos candidatos brasileiros.

No Brasil, a pesquisa é coordenada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a aplicação da vacina nos voluntários deve começar na primeira semana de julho. O país é o segundo a participar do estudo. No Reino Unido, a vacina começou a ser testada em abril em aproximadamente 10 mil voluntários.

Quão perto estamos da esperança e quais são as chances da vacina impedir novos surtos?

Especialistas acham que há um grande progresso. No entanto, dificuldades de falta de confiabilidade e disponibilidade podem se tornar problemas iminentes.

Com a urgência introduzida pela pandemia, para que uma vacina seja feita em tempo recorde, é necessário pular certas etapas e investir fortemente – o desenvolvimento normal leva de dez a 15 anos. Nunca foi investido tanto dinheiro em pesquisas destinadas a proteger as pessoas contra uma doença.

“As operações estão encurtadas. Em vez de levar três anos, leva três meses. Cada etapa avança sem que a anterior seja concluída, apenas com os resultados preliminares que podem passar para as próximas etapas”, explica a epidemiologista Akira Homma, do Instituto Fiocruz de Biologia Imune, considerado um dos 50 estudiosos mais influentes em vacinas na palavra.

 O dr. Reinaldo Guimarães, vice-presidente da Associação de Saúde Coletiva do Brasil (Abrasco), escreveu em seu artigo, As Interfaces e as “Balas de Prata”: Tecnologias e Políticas, que mais da metade das vacinas que chegam à última fase nunca são colocadas no mercado.

“Mais da metade das vacinas em potencial que chegam à fase 3, cerca de 60% delas não são vendidas, não se tornam produtos”, diz o médico.

O doutor Reinaldo acredita que a possível descoberta de uma vacina pode não ser uma solução final para conter o vírus tão cedo.

“É uma bala com revestimento de prata, mas não é uma bala de prata. Não é como se houvesse uma solução única contra a epidemia. Nunca haverá um. Temos uma vacina contra a gripe, mas todos os anos ainda temos casos de gripe, alguns ruins, graves ou fatais. Com Covid será a mesma coisa. Isso se a vacina for realmente boa”, ressalta.

Há uma chance de o Brasil ficar de fora se a vacina

A colaboração de pesquisadores brasileiros com estudos internacionais não garante que o país seja elegível para as doses iniciais. Na maioria das vezes, o desenvolvimento é deixado nas mãos das grandes empresas farmacêuticas, administradas por investidores sedentos por lucros e financiados pelos governos de nações ricas.

Há uma chance de o Brasil ficar de fora se a vacina for descoberta em países com economias poderosas. Para que isso não aconteça, pesquisadores brasileiros, como Akira Homma, se mantêm atualizados sobre o que está sendo feito em todo o mundo:

“A possibilidade da vacina ser desenvolvida e ser deixada para trás, existe, é claro. Mas estamos monitorando de perto a situação e mantendo contato direto com os laboratórios que avançaram mais, buscando uma negociação para poder incorporar sua tecnologia, ou vacina, para que, de uma maneira ou de outra, o Brasil não fique para trás, sem tratamento”.

O especialista afirmou que o desenvolvimento nacional de uma potencial vacina liberaria a dependência econômica e política do Brasil em países como os Estados Unidos. As estruturas de base estão disponíveis para tornar o Brasil independente sobre esse assunto.

“Dependendo da tecnologia usada, somos capazes de começar a produzir imediatamente, porque temos uma infraestrutura de produção de vacinas em nível industrial – vacinas virais, como é o caso da Covid, ou mesmo produzindo-a por métodos bacterianos. Temos laboratórios que podem lidar com isso”, assegurou Homma.

O epidemiologista ressalta que a própria Fiocruz está trabalhando para desenvolver uma vacina. “Temos pesquisadores desenvolvendo a vacina também. Temos grupos em São Paulo na Fundação Oswaldo Cruz, realizando esses esforços desde o início, mas estamos pouco atrás de outros laboratórios“.

Akira diz que está otimista com a descoberta de um medicamento antiviral, mas é cauteloso ao falar em cura para o novo coronavírus.

“A vacina resolverá tudo? Eu não sei. No entanto, estamos realmente esperançosos de que uma boa vacina seja desenvolvida. Mas o conhecimento científico sobre patologia e a maneira como a vacina atua, ainda precisam ser analisados”.

As esperanças da OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) espera que centenas de milhões de doses de uma vacina contra 19 sejam produzidas este ano e outros 2 bilhões até o final de 2021, de acordo com a cientista-chefe Soumya Swaminathan.

Segundo a OMS, seria dada prioridade aos profissionais de saúde nas linhas de frente, às pessoas vulneráveis, devido à idade ou a uma condição pré-existente, e aquelas em ambientes de alto risco, como casas de repouso e prisões.

“Estou esperançosa, estou otimista. O desenvolvimento de vacinas é um empreendimento complexo que envolve muita incerteza. O bom é que temos muitas vacinas diferentes; portanto, se a primeira falhar, ou a segunda falhar, não devemos perder a esperança, não podemos desistir”, afirmou a cientista da OMS.

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