O coitadismo é a arte de ter compaixão de si mesmo. O coitadismo é o conformismo potencializado, capaz de aprisionar o Eu para que ele não utilize ferramentas para transformar sua história. Vai além do convencimento de que não é capaz, entra na esfera da propaganda do sentimento de incapacidade. O coitadismo faz marketing de suas crenças irreais, impotências, limitações. Não tem vergonha de dizer “Sou desafortunado!”, “Sou um derrotado!”, “Nada que faço dá certo!”, “Não tenho solução!”, “Ninguém gosta de mim!”.
São pessoas com notável potencial, mas que o jogam no lixo. Incorpora o papel dramático e autopunitivo de estão programados para serem fracassados. Nada é tão violento contra si mesmo. Nem todo conformista é coitadista. Mas todo coitadista é um conformista. Por que o coitadismo demostra o seu complexo de inferioridade e suas miserabilidades? Porque usa sutilmente e, às vezes inconscientemente, a sua miséria para que os outros gravitem na sua órbita. Portanto, têm ganhos secundários com sua propaganda.
O coitadista está sempre esperando que os outros o encorajem, o animem, o estimulem, com palavras tais como “Você é capaz!”, “Não desista!”, “Você é inteligente!”, “Você é querido!”. São ricos e não o sabem. Dependem das migalhas dos outros para sobreviver, ter atenção, ser valorizado. Não decifram os códigos da sua inteligência. Deixam que os decifrem por eles. Condena-se assim a uma eterna mesmice.
A pobre energia do desejo e a forte energia da ambição
O coitadista, bem como os conformistas, não entende que a ambição é vital para o Eu mudar as suas rotas. Não entende que a energia da ambição suplanta a energia do desejo. Desejo é uma intenção superficial. Ambição é um projeto de vida. Desejo é alicerçado pelo ânimo, ambição é alicerçado pela garra. Os ambiciosos só descansam quando atingem suas metas, os coitadistas descansam antes de entrar na raia.
Você tem ambições saudáveis ou desejos tímidos? Se tem desejo de conquistar pessoas difíceis, a energia do desejo se dissipará no calor das primeiras decepções. Mas se decifrar o código da ambição para conquistá-las , as decepções nutriram sua força, as frustrações alimentarão sua criatividade.
Um homem tosco, rude, e irritadiço, se tiver apenas o desejo de ser romântico, morrerá sendo agressivo, mas se decifrar o código da ambição do romantismo, de se refazer, de se reorganizar, poderá dar um salto. Esse código pautará sua agenda, o levará a traçar um projeto diário que o controlará e fará surpreender quem ama, dirá coisas inesperadas, fará elogios inusitados, terá gestos inesquecíveis. Regará suas atitudes com gentileza.
Um pai fechado, rígido, que é um manual de regras de comportamento que só pensa em trabalho, se apenas tiver o desejo de conquistar e ter a admiração dos seus filhos, morrerá diante deles, não terá êxito, mas, se decifrar o código da ambição da conquista, revolucionará sua agenda. Chorará se necessário, reconhecerá seus erros, pedirá desculpas, será mais flexível, relaxado, aberto. Brincará, se soltará e terá mais coragem contar seus dias mais difíceis para os seus filhos para que eles o fotografem em seu inconsciente como um pai humano, próximo, afetivo, instigante.
Alguns têm desejo de serem organizados, mas passam ano e entra ano e continuam desleixados. Outros têm desejo de serem econômicos, e gastar menos do que ganham, mas quando vêem um novo produto, são escravos da euforia, não pensam no amanhã, gastam o que não têm.
A sociedade está tão neurótica na atualidade que as crises financeiras e pressões profissionais podem adoecer tanto ou mais do que os traumas do passado. Os pais da psicologia se remoeriam em seus túmulos se soubessem que o útero social se tornou uma fábrica de pessoas doentes.
Não basta a energia do desejo. Até um psicopata tem desejo de mudanças. Quem não tem uma sólida ambição de superar seus conflitos não potencializa seu tratamento psíquicos, tem chance de levar para o seu túmulo suas fobias, inseguranças, obsessões, baixa autoestima, alcoolismo, dependência de outras drogas.
Os coitadistas e conformistas esmagam as habilidades do Eu para decifrar os códigos da inteligência. Aprisionam-se nas tramas da mesmice, bebem da fonte dos desejos, enquanto os agentes modificadores da sua história bebem da fonte da ambição do manancial dos projetos de vida.
Leia também: A primeira armadilha da mente humana: o conformismo
(Trecho extraído do livro “O Código da inteligência” de Augusto Cury – Ediouro – Rio Janeiro 2008)