“A boa mãe é aquela que vai se fazendo desnecessária com o passar do tempo”. Ouvi esta frase de um amigo psicanalista e eu a compreendi no sentido de que “ir se fazendo desnecessária” é estimular a autonomia física, emocional, cognitiva e social da criança, por meio da educação maternal. Sim, é preciso reprimir o impulso materno de querer colocar a cria debaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos o tempo todo e para sempre. Uma batalha interna hercúlea, confesso.
Quando começo a esmorecer na luta para controlar a supermãe dentro de mim, lembro-me da frase, hoje absolutamente clara: “Se eu eduquei direito, tenho que me tornar desnecessária”. Claro, porque ser desnecessária é não deixar que o “amor incondicional” de mãe, provoque dependências eternas nos filhos, a ponto deles não se desenvolverem como membros autônomos e produtivos de uma sociedade.
Deixe a criança fazer: ensine-a com paciência, elogie o processo e a estimule continuar até acertar
A criança filha de uma mãe que vai se fazendo desnecessária, é confiante, independente, capaz de pensar e agir por contra própria. Ela aprende a traçar o seu rumo, a fazer suas escolhas, a superar suas frustrações e não tem medo de admitir e arcar com as consequências de seus erros.
A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda e um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não para de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo.
O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância e na divergência, no sucesso ou no fracasso, com peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis. Pai e mãe amorosos, que vão se tornando desnecessários, criam seus filhos livres e preparados para viverem num mundo sem eles. Esse é o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser desnecessárias contemplamos com orgulho o voo dos filhos para longe do ninho. Convenhamos, é muito chato uma mãe eterna no nosso pé…Precisamos reconhecer que os nossos filhos crescem, se tornam autônomos, e muitas vezes, mais sábios do que nós. Descobrimos que fizemos um bom trabalho, quando percebemos que estamos sendo dispensadas e desnecessárias. Lembre-se, muito melhor ser solicitada que “oferecida”.
Observemos, de preferência à distância, o resultado da autonomia integral que estimulamos em nossos filhos e filhas. É hora de descansarmos, vivermos a nossa vida, cuidarmos de nós mesmas, nos respeitando e amando. E esse amor sim, deve ser incondicional.
OBS: Este texto foi revisto e atualizado pelo Portal Raízes. Sua autoria é desconhecida. A imagem de Freud na capa se dá pela referência aos saberes psicanalíticos inseridos.