Foi um problema comum a muitas mulheres na virada do século passado que mudou a vida da lavadeira americana Sarah Breedlove: seu cabelo começou a cair. Determinada a encontrar uma solução, ela passou a experimentar várias fórmulas de produtos, tratamentos e métodos de lavagem.

O sucesso da empreitada não apenas recuperou a saúde de seus cabelos, mas foi o início do que se tornaria um império da indústria de cosméticos. Breedlove, que passou a se chamar Madam C. J. Walker, é considerada a primeira mulher negra milionária dos Estados Unidos — e a primeira mulher a virar milionária por conta própria.

A história improvável da filha de escravos libertos que se tornou uma das mulheres mais influentes de sua época foi contada na biografia On Her Own Ground, escrita por sua trineta, A’Lelia Bundles. O livro inspirou a série A Vida e a História de Madam C. J. Walker, que estreou na Netflix, com Octavia Spencer no papel de Walker.

Walker não apenas revolucionou o setor de beleza para mulheres negras, mas também se destacou pela filantropia e pelo ativismo, em uma época em que grande parte dos Estados Unidos vivia sob rígidas leis de segregação racial.

Segundo Joanne Hyppolite, uma das curadoras do Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana, em Washington, além de oferecer treinamento a centenas de mulheres negras que trabalhavam como cabeleireiras e vendedoras de seus produtos, Walker e outras empresárias negras pioneiras da época criaram oportunidades de educação e independência econômica para milhares de outras mulheres, que se tornaram gerentes ou proprietárias de seus próprios salões de beleza.

“O alcance de seus produtos e programas de treinamento também foi internacional e teve impacto em mulheres negras ao redor do mundo”, diz Hyppolite à BBC News Brasil.

“Com maior oportunidade econômica, essas mulheres, por sua vez, puderam oferecer melhor educação para seus filhos e cobrir outras necessidades, como saúde para suas famílias e membros de suas comunidades. Isso teve uma correlação direta com o crescimento da classe média negra.”

Ao longo da vida, ela treinou mais de 40 mil mulheres e lhes deu a possibilidade de superar a pobreza através de uma carreira independente. Posteriormente, muitas destas mulheres se tornaram ativistas no movimento de direitos civis.

Walker tinha orgulho de sua trajetória da pobreza à fortuna, em uma época em que tanto negros quanto mulheres enfrentavam obstáculos na sociedade americana.

“Eu sou uma mulher que veio dos campos de algodão do Sul. De lá, fui promovida ao tanque. Depois, fui promovida à cozinha. E de lá promovi a mim mesma ao negócio de produção de produtos para cabelo”, disse Walker durante uma convenção nacional de líderes negros em 1912. “Não tenho vergonha de minhas origens humildes. Nunca pense que só porque você tem que trabalhar no tanque você não é uma dama!”.

Fonte: BBC






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