O mestre Rubem Alves, na sua crônica “Violinos velhos tocam música”, trouxe à lume a seguinte reflexão: “Jesus era sábio e conhecia os segredos do coração humano. Psicanalista insuperável, disse que o homem bom tira coisas boas do seu tesouro; o homem mau tira coisas más do seu tesouro. Ou seja, a gente encontra aquilo que está procurando. Isso se aplica à leitura que se faz das Sagradas Escrituras. Pessoas que estão cheias de medo, de sentimentos de vingança, de autoritarismo encontrarão na Bíblia ameças, castigos, infernos, um Deus cruel e vingativo: parecido com elas. Cada Deus é um retrato de quem acredita nele. É possível fazer uma psicanálise de uma pessoa analisando os seus pensamentos e sentimentos religiosos. Aqueles, entretanto, que estão cheios de sentimentos ternos e que, portanto, não são movidos pelo ódio, vão tirar daquele tesouro ideias de beleza bondade e perdão. Seu Deus muito se parece com uma criança: não há vinganças, castigos ou inferno”.
A humanidade é essencialmente má ou boa?
Levando em consideração a teoria do filósofo inglês Thomas Hobbes, a resposta é, má. Hobbes, que viveu entre os séculos 16 e 17, afirmou, em seus estudos, que a natureza humana é má. Segundo a sua teoria, se o homem já nasce mau, ele não sabe viver em sociedade e precisa de um estado autoritário, que dite as regras, as normas de convivência. A visão é de que homem não tem pretensão de ser social. Ele é mau, o que causa insociabilidade. Só a educação transforma o homem num ser social, capaz de renunciar à sua natureza instintiva de sobreviver subjugando os que difere dele, seja cultural, moral, étnica, religiosa ou politicamente.
Em sua obra “O Leviatã”, Hobbes, diz que “O homem é mau, não presta” inspirada em um monstro bíblico, que é uma serpente que fez um acordo com os homens. Na medida em que os homens não cumprem o acordo, a serpente vem e os devora. A serpente então seria a organização social, política e cultural. Hobbes tenta compreender como a sociedade se estrutura e as razões pelas quais os homens são o que são e fazem o que fazem, e como a política é pensada, aplicada e interfere nesse contexto.
A humanidade não é boa e nem má, é instintiva, maleável de acordo com o meio
De acordo com as informações do site Psicanalise Clínica, Sigmund Freud, a natureza humana compreende algumas características profundas que anseiam satisfazer necessidades instintivas. A natureza da sociedade, civilizada ou bárbara, é resultado do tipo de pessoas que habitam o meio ambiente. Assim sendo, é também uma função do grau de padrões morais estabelecidos pela sociedade. Por sua vez, esse tipo de padrão forma a supressão contínua do instinto humano levando à necessidade de reação ou compensação. Assim sendo, esta característica faz o ser humano desejar a superioridade complexa.
Freud postulou que existe uma grande relação entre o homem e a sociedade, o que o torna naturalmente antissocial baseado no nível da natureza maligna dentro de cada indivíduo.
Deveres da humanidade enquanto humanidade
Freud acreditava que a função da sociedade era verificar os instintos anti-sociais humanos. O nível em que o ser humano se torna civilizado é puramente dependente do processo de sublimação. A sublimação é o enfrentamento da verdade sobre si mesmo, aceitá-las e transformá-las em positividade.
Isso dá origem à relação controversa entre o desejo da natureza humana de satisfazer seus impulsos e as práticas culturais da sociedade. Assim, o grau em que um indivíduo é submetido à eliminação de sua natureza, determina o nível de seu estilo de vida civilizado.
Portanto, o que vemos da visão de Freud sobre a natureza humana é que é mais pessimista, já que ele colocou tanta ênfase na crença tradicional de que existe uma grande relação entre os comportamentos humanos e a sociedade na qual um indivíduo cresce. Isso faz pensar que quando as raízes de onde uma pessoa vem forem mais periféricas, as pessoas nascidas ali estejam fadadas à destruição.
A superioridade da maioria determina o modo como uma sociedade é conduzida
Freud acreditava que a superioridade da maioria determina o modo como uma sociedade é conduzida e impulsionada: ” A burguesia se considera herdeira de todo passado, presente e futuro da humanidade. A produção intelectual e artística da geração que atinge a maturidade entre 1895 e 1905, bem como a psicanálise tenderá a criticar impiedosamente essa cruel realidade, esta atmosfera surdamente opressiva, mascarada pela frivolidade da imprensa; dos costumes e das mentalidades. O fato é que nas próximas décadas surgirão movimentos de luta contra toda essa superioridade que explora e oprime, é necessário dar ouvidos a eles, pois só assim ocorrerá uma transformação necessária e fundamental”.
A humanidade está mais disposta a conceder misericórdia ou agressão?
Freud descobriu que o comportamento geral de um indivíduo era muito motivado por questões decorrentes das forças emocionais construídas na parte inconsciente da mente.
De acordo com esta teoria, as ações humanas são resultado de conflitos mentais e neuróticos. A humanidade, nesse contexto, está mais inclinada à agressão. Assim, exige a satisfação de instintos mais antissociais que impulsionam a obtenção do prazer individual.
Isso levaria a mais conflitos entre os indivíduos e a sociedade e, por fim, à destruição da humanidade. Freud argumenta que a humanidade não está inclinada a conceder misericórdia, já que não há muita ênfase nas forças construtivas da empatia, na natureza humana.
Qual será o futuro desta geração que nasceu na cultura do ódio?
A empatia se resume na faculdade de compreender emocionalmente o outro, de modo a se enxergar no outro, se colocar no lugar do outro. Assim, o código moral baseado neste princípio assegura que os indivíduos se tratem de maneira mais benevolente e menos violenta.
A percepção freudiana da moralidade baseia-se no conceito de empatia. Isso é feito de tal modo que qualquer comportamento associado ao mal social é condenado por todas as sociedades. A maioria dos indivíduos dentro da sociedade aceita a adoção dos princípios e regras que protegem contra infligir danos aos outros. Isso levando em consideração que ninguém deseja maus comportamentos contra si próprio ou contra sua família.
A moralidade de um indivíduo é majoritariamente baseada nas ações comportamentais, sejam positivas ou negativas. Elas, por sua vez, garantem a continuidade das próximas gerações, desde o ventre materno, dentro das sociedades.
Assim, é necessário que valores empáticos sejam ensinados ás crianças, desde o ventre materno até a vida adulta.
Texto da redação do Portal Raízes. Se você gostou, curta, compartilhe com os amigos e não se esqueça de comentar, isso nos ajuda a continuar trazendo conteúdos incríveis para você. Siga-nos também no Instagram e Youtube.