O caminho que uma peça de arte faz até virar estrela de museu às vezes é tortuoso. Algumas testemunharam revoluções. Outras, perseguição política. Tem uma que quase foi para o lixo. Veja o que a história particular de 6 delas revela sobre a humanidade.
2. MONA LISA – Século 16 – Renascimento / Revolução Francesa
Mona Lisa e Da Vinci seguem juntos até o pintor trocar Florença por Paris, em 1516. A mudança acontece a convite de Francisco 1º, rei francês que chamava artistas da Itália para morar na França e, assim, difundir o Renascimento no país. Quando vê Mona Lisa, Francisco 1º não tem dúvidas e a compra na hora.
A obra fica em uma das moradas do rei, o Château Fontainebleau, até 1726 – quando Luís 15 assume o trono e a leva para o Palácio de Versalhes, onde a realeza fica longe das revoltas populares de Paris. Com a Revolução Francesa, a Mona Lisa é transferida para o Museu do Louvre, onde todo o povo pode apreciá-la. Pelos ideais revolucionários, obras de arte não deveriam ficar restritas aos nobres.
O imperador acaba com a festa. Em 1800, depois de tomar o poder, ele tira a obra do Louvre e a leva para o Palácio de Tuileries, onde morava. Mais precisamente para uma parede de seu quarto, logo acima da cama. Fim do império napoleônico: Mona Lisa está de volta ao Museu do Louvre para que toda a população possa vê-la. A essa altura, a tela de Da Vinci já está famosa e é considerada uma obra-prima.
Em 1870, Napoleão 3º inicia um conflito com a Prússia. Por medo de uma invasão em Paris, Mona Lisa e outras obras são guardadas em um complexo militar na cidade francesa de Brest. Enfim, paz. De volta ao Louvre. Até que a obra é roubada em 1911. Por dois anos Mona Lisa fica nas mãos de um ex-funcionário do museu. Italiano, ele tentava devolver à Itália as obras do Renascimento. Não deu. Hoje Mona Lisa segue sendo vista pelo povo: 8 milhões de turistas por ano.
3. O NHO DA RAZÃO PRODUZ MONSTROS – Século 18-hoje – Auge do socialismo / Guerra Fria
Em 1799, o pintor espanhol Francisco de Goya faz 80 gravuras que satirizam os costumes da nobreza e do clero. Uma delas, chamada O Sonho da Razão Produz Monstros, se perde do conjunto e é dada como desaparecida.
Quase dois séculos depois, Enrique Tierno, fundador do Partido Socialista Popular da Espanha, encontra a gravura em sua coleção. Ele acha que a obra tem um estilo parecido com o de Goya, mas não percebe que é um original. Tierno dá a gravura ao colega de socialismo Josip Tito. Presidente da Iugoslávia, Tito trabalhava para distanciar o país da Guerra Fria, evitando alinhar-se à URSS. Manteve a gravura em sua casa oficial, em Belgrado, até morrer, em 1980.
Fim da Guerra Fria: a Iugoslávia se separa em várias repúblicas. Slobodan Milosevic, presidente da Sérvia e, depois, da Iugoslávia, ocupa a casa de Tito. Ele detesta a gravura e pede que a joguem no lixo. Um funcionário a deixa na parede da cozinha. Após revoltas populares, Milosevic renuncia em 2000. A imprensa vê a gravura e especula se pode ser de Goya. A confirmação vem em 2002, e a obra é devolvida à Espanha.
4. GUERNICA – Século 20 – Franquismo / 2a Guerra / Nacionalismo basco
A cidade espanhola de Guernica é bombardeada pelos nazistas em 1937. Abalado pela notícia, Pablo Picasso – crítico do nazismo e defensor da democracia na Espanha – pinta Guernica, retratando o sofrimento das vítimas.
2ª Guerra: Picasso teme que o ditador espanhol Franco – que apoia Hitler – destrua a tela. Ele cede a obra ao museu MoMA, de Nova York. Pede que ela seja devolvida quando houver democracia na Espanha. A democracia espanhola não vem e Guernica viaja por museus. Passa por São Paulo em 1953. O Brasil entrava no circuito artístico, com a recente criação da Bienal de arte. Com a morte de Franco, a Espanha tem eleições em 1977. Guernica volta ao país. Está em Madri, apesar de protestos para que vá para o País Basco, onde fica a cidade de Guernica.
5. MANTO TUPINAMBÁ – Séculos 16 e 17 – Grandes navegações
O manto indígena foi produzido por índios brasileiros tupinambás por volta de 1500. Era usado pelo pajé, em eventos religiosos da tribo. Só há mais três mantos desse tipo no mundo. Em 1637, holandeses ocupam o Nordeste brasileiro interessados em açúcar. O conde Maurício de Nassau é o responsável pela administração. Ele ganha o manto de um pajé e o leva para a Holanda. De volta à Europa em 1645, Nassau dá o manto à família real dinamarquesa. É um mimo a um reinado amigo: Holanda e Dinamarca trocavam figurinhas sobre negócios. A família real da Dinamarca exibe o manto em viagens pela Europa. No século 17, era grande o interesse dos europeus por peças do Novo Mundo.
O manto só retorna ao Brasil em 2000, para uma exposição. Não há registro de pedido do governo brasileiro para que obras indígenas como essa voltem ao país, segundo o Ministério da Cultura.
6. RETRATO DE ADELE BLOCH-BAUER – Século 20 – Nazismo
Em 1905, Gustav Klimt termina o retrato de Adele Bloch-Bauer. Adele era esposa de um empresário do setor açucareiro e vivia em Viena, então pólo de riqueza e produção cultural. Adele morre e o quadro fica com seu marido. Judeu, ele se vê obrigado a deixar a Áustria quando os nazistas ocupam o país. A obra fica com sobrinhos que moram no país.
A perseguição aos judeus continua. Maria Altmann, sobrinha do casal Bloch-Bauer, também resolve deixar a Áustria. Vai morar nos EUA. O retrato de Adele é confiscado pelo regime nazista, como outras 650 mil obras que pertenciam a judeus na época da 2ª Guerra Mundial.
Em 1999, Maria consegue na Justiça a posse do retrato de sua tia. Nos últimos 50 anos, cerca de 25 mil obras roubadas pelos nazistas voltaram a seus donos judeus. Sob protesto de judeus de todo o mundo, Maria vende a obra junto com outros trabalhos de Klimt. Leva US$ 135 milhões pelo conjunto em um leilão.
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