“É curioso supor que no Brasil, o espaço da representação ocupa um espaço de realidade, é uma inversão da ideia do George Orwell de 1984 no qual a televisão tem que ser assistida, quer dizer, a televisão que aparentemente nos assiste, nós somos espectadores de uma realidade que é a novela, nós somos a novela, e a novela é a realidade, é como se invertesse a ideia do George Orwell de um grande irmão olhando tudo é como se na verdade o único espaço de realidade do mundo, fosse o espaço de um Big Brother, ou de uma novela, citando Foucault: “Aparentemente, é preciso que haja um hospício para que as pessoas que estão fora, entendam que não são loucas’”.  Leandro Karnal 

No dia 24 de julho foi ao ar o capítulo de A Força do Querer em que Irene (Débora Falabella) se envolveu numa briga quando Joyce (Maria Fernanda Cândido) e Ritinha (Isis Valverde) se juntaram contra ela. Muitos consideraram isso como um ato louvável, mas a escritora Cláudia Dornelles, postou em sua página Alma no Varal um texto digno de reflexão, confira:

“Vou mexer num vespeiro ao dizer o que penso acerca da cena que vi e me deixou perplexa pelo sucesso que fez nas redes sociais. Mas, como não tenho medo de vespas, seguirei. Começo dizendo antes de mais nada que todo o conteúdo que compõe o núcleo do que vi me parece machista. Não gostei e vou tentar dizer o porquê.

Quem tem pelo menos 30 anos já sofreu algum tipo de desapontamento sentimental. Acho que até as freiras Carmelitas, de alguma maneira, já sentiram algum desapontamento, porque mulher possui uma essência universal.
Mas vamos falar da cena (e confesso aqui que fui rever), porque não gosto da novela, por inúmeras razões que não vêm ao caso. Falemos dos personagens e os perfis que possuem. A Irene, interpretada pela Débora Falabella, é ‘psicopata’, segundo pesquisas que li para escrever esse texto. Então, todos contra ela e ponto final? Tenho dúvidas.

Duas mulheres se engalfinhando por um homem é deprimente e só revela que continuamos muito carentes de sororidade, porque homens se auxiliam e mulheres se espancam, inclusive na novela. A traição sofrida pela personagem da Maria Fernanda Cândido, a Joyce, estava escrita nas estrelas. Ela ama o casamento, não o marido. Ela quer o controle da família, não a felicidade dos familiares. Sua excessiva preocupação com que os outros vão pensar a respeito de si e do mundo que criou demonstra que sabe o quanto fracassada foi tal criação.

O personagem do marido é um imaturo emocional, que não sabe se vai ou fica e que, surpreendentemente, sai ileso, porque é mais fácil manipular a estatura emocional dele como fraco, enquanto foi ele mesmo quem rompeu o contrato; não apenas do casamento, mas da lealdade. Mas ele não apanha, não serve de meme na Internet e não é razão de piada. Sabe por quê? Porque, honestamente, é mais fácil colocar a culpa na ‘piranha’ (como ganhou espaço nas redes sociais).

Antes de colocar a culpa na outra mulher, por que não se perguntar qual a relação verdadeira que se tem em casa? Casamentos consistentes, no sentido da lealdade e comunicação entre os parceiros, não abrem espaço para uma terceira pessoa.

Gente que ama e é amado e cujas regras de lealdade estão traçadas, sequer se deixam seduzir, porque relação amadurecida, com o casal indo pra mesma direção, não abre espaço para que ninguém se aproxime dessa maneira.Ver duas mulheres se machucando dá ibope, mas não aprofunda as razões de quem decide ser casada, mas infeliz. De quem ama mais a ‘instituição casamento’ que o auto-respeito”. Cláudia Dorneles
Veja a cena e reflita por si mesmo





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