Pisque. Assim, daquele jeito, rápido mesmo. Foi? Pois então. A sua piscada foi mais rápida do que o tempo que você leva para, verdadeiramente, se apaixonar. Segundo uma universidade norte-americana, em um quinto de segundo o cérebro ativa 12 regiões diferentes e libera substâncias como dopamina, ocitocina, adrenalina e vasopressina.
Segundo esse mesmo estudo, as substâncias liberadas naquele quinto de segundo da paixão são as mesmas do consumo de drogas como a cocaína. É por isso que a gente acha que pode tudo quando está apaixonado.
Um piscar de olho? Menos do que isso? Um piscar de olho e acabaram todos os poemas, todas as canções, todas as explicações sobre o que é a paixão. Blasfêmia? Bobagem científica? Não.
Como saber se esse em um dos 86.400 segundos de hoje você vai se apaixonar? A gente só tem no armário uma melhor roupa, no frasco um pinguinho do melhor perfume. Como saber quando vai ser? Se não dá pra saber, não tem como se preparar. Mas dá pra estar preparado sempre. Porque a expectativa de se apaixonar na próxima esquina pode ser o nosso combustível diário ao bom humor.
O fato de a paixão acontecer em menos de um segundo nos traz uma bela enrascada também. Não tem como evitar. Não há argumento (ele não presta! Olha aquele sorriso torto! Deveria estar trabalhando a esta hora!) que caiba neste tempo. Não há escudo (ele tem cara de sem vergonha! Já sofri muito! Não quero mais me apaixonar pelos próximos três anos!) que possa ser armado. A paixão acontece e pronto. E fim, até um novo começo.
A ciência não acabou com a poesia ao nos descobrir que uma paixão acontece em menos de um segundo. A pesquisa é só mais um argumento que comprova que a paixão talvez seja muito mais instintiva e natural do que sonha a nossa vã filosofia – e exatamente por isso, mais inexplicável do que nunca.
Texto de Marina Melz – publicado originalmente em E°H