Um homem, viajando pelo campo, encontrou um tigre. Ele correu, o tigre em seu encalço. Aproximando-se de um precipício, tomou as raízes expostas de uma vinha selvagem em suas mãos e pendurou-se na beira do abismo. O tigre o farejava acima. Tremendo, o homem olhou para baixo e viu, no fundo do precipício, um outro tigre a espera-lo. Apenas um ramo o sustinha. Mas, ao olhar para a planta, viu dois ratos, um preto e outro branco, roendo aos poucos sua raiz. Nesse momento, seus olhos perceberam um belo morango vicejando perto. Segurando o ramo com uma mão, ele pegou o morango com a outra e o comeu.
Essa é uma das analogias sobre a vida humana. Estamos fugindo de um animal que pode nos matar, presos por um fio – o qual está sendo roído pela morte e pelo dia (os ratos branco e preto) -, e apreciamos a doçura do momento. O que mais haveria para ser feito?
A morte é certa, mas até morrer podemos apreciar a vida. Você aprecia a sua existência? Mesmo com dificuldades, problemas, insatisfações, doenças e mortes? Percebe também a doçura de um nascer do sol, de uma flor ou de uma criança? Sorri à lua e às estrelas? Reconhece o som dos pássaros e da alegria? Não veja apenas o lado sombrio, veja a luz, pois sem ela nem a sombra existiria.
Texto da Monja Coen, no livro “108 contos e parábolas orientais”