O debate ligado aos direitos da mulher vem influenciando diversos aspectos da sociedade. O campo político está abalado, o doméstico foi transformado e o religioso vem sendo questionado. As tradicionais leis e interpretações bíblicas foram as primeiras a serem colocadas em discussão por basearem e nortearem os demais âmbitos sociais, como a submissão feminina e o patriarcalismo.

Mulheres – dentro e fora da igreja – emergiram suas vozes em busca de visibilidade e, questionando práticas da instituição religiosa, trouxeram a debate uma nova consciência e articulação. Ao longo dos anos – é inegável – as mulheres foram alvo de injustiça e violência. Muitas igrejas, se não foram as culpadas diretamente por essa opressão, foram, pelo menos, omissas diante do tratamento desumano e cruel – tudo isso devido a uma interpretação parcial da Bíblia e interesses pessoais.

Indo diretamente para a antiga Jerusalém encontramos, igualmente, uma sociedade opressora contra as mulheres e minorias. O modelo perfeito aos olhos dos religiosos daquela época era o homem puro, patriarcal, devoto às tradições religiosas e bem visto na praça. Não havia o conceito feminismo. Não havia luta entre classes ou gêneros. O estado e a religião se misturavam e tais aspectos não estavam em pauta.

E então, aos 30 anos, Jesus começa a andar pelas cidades propondo uma nova maneira de pensar – e de viver. Cristo entendia que os líderes religiosos haviam distorcido a lei mosaica e utilizavam dela como ferramenta de controle e manipulação. Diversas leis foram adicionadas com o intuito de tornar ainda mais pesada a caminhada espiritual. Inconformado com o peso da religião manipulada pelos fariseus, Jesus revirou os templos, abraçou pecadores, lavou os pés de seus amigos e pregou o amor de Deus para com os seres humanos.

Jesus abalou as estruturas religiosas da época. Jesus disse: vocês todos são vistos da mesma forma; não há um sequer que esteja em melhor posição que outro.

Jesus nivelou os seres humanos

E as mulheres perceberam isso. Elas perceberam que havia um rabi, um mestre, que se diferenciava dos outros. Um homem que as tratava com o respeito que era devido a elas, com amor que mereciam e com igualdade diante de Deus.

Contudo, ao analisarmos o comportamento de Jesus, percebemos que ele não tinha em sua pauta o movimento feminista ou qualquer outro direito das minorias, mesmo porque essas nomenclaturas de movimentos são contemporâneas. O movimento de Cristo era em prol da benevolência ao ser humano.

Jesus veio para igualar todos os seres: homens, mulheres, pobres, ricos, livres, escravos… Para ele, todos estavam no mesmo nível, desde o fariseu religioso que obedecia criteriosamente as leis à prostituta pega em adultério.

“Para mulheres e outras pessoas oprimidas, Jesus virou de cabeça pra baixo a sabedoria da sua época”. Philip Yancey

Essas mulheres, que viam em Cristo uma salvação da opressão que viviam diariamente, passaram a segui-lo e, por se sentirem incluídas, se tornaram suas defensoras.

Jesus nivelou a educação

Ele não vivia em uma espécie de grupo exclusivamente formado de homens. A educação da Torá raramente era direcionada a uma mulher e quanto era, apenas em público. Elas eram excluídas da vida religiosa. Jesus, ao contrário, inseriu mulheres em seu grupo mais íntimo – o que enfurecia os líderes religiosos – e manifestou sinais e maravilhas tanto em meio aos homens quanto às mulheres.

Jesus nivelou a justiça

Mais do que ensinar a teoria que reconectava o ser humano a um Poder Superior, Cristo pôs em prática seu senso de justiça ao imputar às mulheres o mesmo tratamento dado aos homens.

Um homem poderia se divorciar de sua esposa por qualquer coisa – se o jantar não estivesse pronto, por exemplo. Para Jesus, os dois poderiam solicitar o divórcio (não entro aqui em detalhes de quando isso poderia ser feito). Quando questionado se deveriam apedrejar uma pecadora adúltera, Jesus respondeu aos homens: quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra. Obviamente, ninguém cometeu o assassinato. Cristo mostrou que as regras valiam tanto para o homem quanto para a mulher.

Faz sentido entender porque foram as mulheres que o amaram e ficaram aos pés de Jesus na cruz. Enquanto a maioria dos homens fugiram para salvar suas próprias vidas, as mulheres perceberam que naquele homem estava a concretização de sua paz. E é notável o fato de Cristo ter aparecido após sua ressurreição primeiramente a uma mulher e responsabilizá-la em divulgar a notícia.

Jesus nivelou a credibilidade

A palavra de uma mulher não tinha valor nos tempos de Jesus. Maria Madalena foi a responsável por difundir as boas novas: Jesus não estava mais morto.

O preconceito quanto à opinião feminina e o que elas tinham a dizer era tão enraizado na cultura judaica que os homens tiveram que ir até o túmulo para verem com seus próprios olhos. O que as mulheres tinham a dizer não era ouvido, escutado, valorizado.

Isso é muito diferente do que vivemos hoje em dia?

Jesus não pregou com todas as palavras que as mulheres deveriam decidir se queriam se casar ou não ou que deveriam ter o mesmo salário que um homem. Porém, precisamos olhar para a raiz principal de seus ensinamentos.

Negar a igualdade de direitos das mulheres é negar o nosso amor a elas. É não cumprir o que Jesus disse ao tratá-las como gostaríamos de ser tratados. É perpetuar que existe uma diferença de mérito entre os gêneros. É garantir que uma sociedade machista e patriarcal continue aprisionando e humilhando o sexo feminino.

E mais: não reconhecer – e apoiar – a luta pela igualdade entre os gêneros é contrariar os ensinamentos do Cristo.

Considerações finais

(1) Talvez você, durante a leitura desse texto, já tenha preparado suas munições para destilar seu veneno nos comentários ao utilizar as outras passagens do Novo Testamento que se referem às mulheres. As cartas de Paulo às igrejas que ele discipulava foram cartas instrutivas, não cartas normativas. Paulo não estava dizendo que todas as mulheres não deveriam abrir a boca no culto e sim, orientando uma igreja específica que controlasse as mulheres faladeiras (fofoqueiras), pois naquele caso isso mostrou-se necessário. É importante perceber que o mesmo autor que é usado para perpetuar a soberania masculina sobre a mulher também escreveu: “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28)

(2) Ao contrário do que muitos acreditam, o que o feminismo propõe é a igualdade entre os sexos. Não a dominação do homem sobre a mulher (isso é o machismo) nem a dominação da mulher sobre o homem (isso é “femismo”). Também não significa ódio aos homens, o nome disso é misandria. É importante entender o que estamos discutindo.

A pauta está centrada na igualdade de direitos: no fato de a mulher também poder estudar, também escolher a própria profissão, ir trabalhar e receber o mesmo salário que um homem com a mesma qualificação e número de horas trabalhadas recebe. Ter o direito de escolher com quem se relacionam, como se relacionam, por quanto tempo se relacionam. Querem sair na rua sem serem consideradas um pedaço de carne, não ouvindo galanteios chulos e passadas de mão. Poder usar a roupa que quiserem, escolherem quando e se querem se casar, não serem vítimas de agressão doméstica e – muito menos – da violência sexual. É igualar o homem e a mulher no âmbito social, profissional e comportamental. Isso é humanismo.






As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.