Para quem compreende o cinema como uma poderosa ferramenta de fazer pensar e uma arte capaz de promover mudanças profundas a longo prazo, de forma extremamente particular e subjetiva, a lista a seguir apresenta boas possibilidades de adentrar num universo deliciosamente intelectual, misterioso, em que verdades absolutas, envoltas em celofane cor-de-rosa, não serão encontradas.
Esta lista não é para apaziguar nem para explicar o mundo em meia dúzia de passos bem didáticos. Esta lista é para quem prefere perguntas à respostas, filosofia à autoajuda, aprendizado à adestramento técnico, emoções refinadas à catarse imediatista. É para quem entende que existe um grande abismo entre gosto pessoal e critérios da arte e que o nosso gosto não é o umbigo do mundo. É apenas o nosso gosto. É para quem entende, mesmo sem gostar, que nem sempre o mais importante de um filme é contar uma história. A lista a seguir é aleatória. Não sigo nenhum critério hierárquico.
1.A bela da tarde, de Luis Buñuel (capa)
Engana-se quem pensa que o filme A bela da tarde narra uma simples história bizarra sobre uma linda mulher burguesa que se prostitui por prazer. A bela da tarde é um mergulho nas profundezas da natureza insondável do desejo com uma criatividade narrativa de fazer cinéfilos pirarem.
2. Dúvida, de John Patrick Shanley
O título já prepara bem para a realidade do filme. É isso mesmo.O espectador dá voltas, voltas e mais voltas e termina o filme em dúvida. Cada um cria o seu juízo de valor , evidentemente. Mas saber exatamente o que ocorreu mesmo não é meta do filme.
3. Precisamos falar sobre o Kevin, de Lynne Ramsay
Quem acha que toda mulher nasceu para ser mãe e/ou que existe uma clara relação de causa e efeito em cada um dos gestos humanos, Precisamos falar sobre Kevin pode ser bem desestruturador.
4. Réquiem para um sonho, de Darren Aronofsky
Se você gosta de se sentir realmente confortável ao ver um filme, esqueça Réquiem para um sonho. Ele é realmente pesado e desagradável. Uma vertiginosa viagem ao inferno íntimo de cada um de nós.
5. A cidade dos sonhos, de David Lynch
David Lynch parece sempre descrever um pesadelo e em A cidade dos sonhos ele pesou na mão, fazendo um labirinto intelectual em que nos perdemos no meio da viagem. Um filme intrincado que em alguns momentos vai te fazer duvidar sobre a sua capacidade interpretativa.
6. Mapa para as estrelas, de David Cronenberg
Filme indigesto por ser demasiadamente realista. Mergulha na grande fossa dos bastidores de Hollywood sem nojinho algum.
7. Mulheres diabólicas, de Claude Chabrol
Fugindo do preceito causa e efeito, este filme inspirado livremente na peça As criadas de Jean Genet e no caso real das irmãs Papin, mostra que não é preciso ter um motivo consistente para se voltar agressivamente contra alguém. Claude Chabrol trabalha os tipos psicopatas com maestria.
8. Desconstruindo Harry, de Woody Allen
Com o seu estilo naturalmente sarcástico, elevado a enésima potência, Allen brinca cruelmente com a capacidade que os escritores têm de reinventar a realidade ao seu bel prazer.
9. Um estranho no ninho, de Milos Forman
Se você pensa que a realidade apresentada no filme de 1975 já está superada, lhe darei uma má notícia. Olhe atentamente o mundo ao redor.
10. O inquilino, de Roman Polanski
Se você acha que já viu todas as maluquices nos nove filmes anteriores, respire fundo. Você não viu nada ainda.
Cinéfilos consagrados e aspirantes a cinéfilos, peguem suas taças de loucura, estourem bastante pipoca condimentada com curiosidade e um brinde às possibilidades da sétima arte. Tim tim!