A escritora e psicanalista Clara Dawn, faz uma síntese de dois livros da doutora em psicologia clínica, Marcia Neder. “Déspotas mirins: o poder nas novas famílias” e “Os filhos da mãe: como viver a maternidade sem culpa e sem o mito da perfeição”.
Déspotas mirins: o poder nas novas famílias
Esta obra é rica na exploração das fenomenologias socioculturais e como elas são capazes de influenciar o modo como o ambiente familiar é conduzido. A autora analisa como o poder era exercido dentro das famílias, destacando a transição de um modelo autoritário para modelos mais democráticos ou igualitários. Apontando os lados positivos e negativos de um modelo e de outro.
A autora examina os esforços e estratégias que os pais empregam para manterem o controle e a autoridade em casa, enquanto também reconhecem a importância de permitir a autonomia e o desenvolvimento saudável das crianças.
Duas coisas conceituais que a gente aprende quando lê Despostas Mirins, o poder nas novas famílias, são: Infantolatria e a Maternolatria. De cara a gente pensa logo que se trata de transformar a criança e também a mãe em figuras dignas de idolatria. Entretanto, esses conceitos ao serem estudados histórica e culturalmente, destacam as complexidades das relações familiares modernas e as tensões entre autoridade parental, que ao mesmo tempo que colocou a criança no centro de tudo, dando-lhe poder desproporcional, cedendo a todas as suas vontades, idealizou uma maternidade impossível, onde a mãe é vista como infalível, e seu papel é glorificado acima de tudo. Quando uma mulher se vê diante da “necessidade” social de ser perfeita em todos os aspectos da criação dos filhos, ela passa a negligenciar os seus direitos como indivíduo. Ela se neutraliza e se esgota em todos os aspectos de sua existência.
Este livro é sem dúvida alguma um choque de realidade que talvez a maioria de nós ainda não está preparada para considerar. Mas se você, assim como eu, é uma pessoa aberta às novas reflexões e aprendizados, pode mergulhar nesse livro que apesar de ter sido escrito por uma doutora, possui uma linguagem bastante acessível e agradável.
Os filhos da mãe: Como viver a maternidade sem culpa e sem o mito da perfeição
Da mesma autora e igualmente bom, é “Os Filhos da Mãe”. Eu, gostei imenso desse livro. Tá na minha lista de favoritos. Neste livro, Márcia Neder se dedicou a examinar a maternidade em diversos contextos, incluindo questões de gênero, classe social, cultura e política. É impressionante ver como esses elementos moldam a experiência materna de maneiras únicas. Um aspecto que me agradou bastante foi a forma como a autora desconstruiu estereótipos sobre a maternidade, desafiando ideias preconcebidas e oferecendo uma perspectiva mais ampla e inclusiva sobre o que significa ser mãe nos dias de hoje.
Esse livro, além de ser enriquecido com relatos pessoais envolventes, traz uma pesquisa sólida dentro de uma leitura que ressoa em nossas emoções mais empáticas e em nossa cognição empírica e dialética.
Para mim o ponto crucial de “Os Filhos da Mãe” é a concepção de que a maternidade e as expectativas associadas a ela, foram, e ainda são, moldadas por aspectos culturais, sociais, econômicos/ políticos, sendo plausível considerar que as mulheres foram incentivadas a assumir um papel de cuidadoras exclusivas dos filhos, para que os homens pudessem focar no trabalho produtivo sem se preocuparem com as tarefas domésticas e a criação dos filhos, para o acúmulo de capital.
No entanto, a autora deixa evidente que essa não é uma dinâmica universal e imutável. As experiências das mulheres e as expectativas em torno da maternidade variam significativamente entre as culturas. E que felizmente há países em que os papéis de gênero são mais equitativos e as responsabilidades de cuidado com os filhos são compartilhados de forma mais justa entre homens e mulheres. Mas esse é apenas um aspecto de um quadro muito mais complexo e multifacetado.
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