Entre os dias 12 e 18 de outubro deveria acontecer a Semana de Prevenção à Violência Contra a Criança. Uma semana inteira de reflexões acerca das violências físicas, psicológicas, sexuais, morais e sociais vivenciadas diariamente por meninas e meninos brasileiros. Mas a semana de luta foi esmagada pela ideia capitalista que instituiu o dia 12 como o dia homenagear as crianças com presentes e nenhuma reflexão.
Mas “para que falar de violência, vamos falar só de alegria e presentes. Falar de coisa ruim atrai coisa ruim”.
Não falar sobre a violência nunca impediu que ela acontecesse, é o contrário: a melhor maneira de prevenir que violências aconteçam é falando abertamente sobre elas e propondo debates e ações contra elas.
Então, sim, nós, nessa semana de prevenção à violência contra a criança, vamos falar abertamente sobre como está a saúde mental de crianças vítimas de violência física, psicológica e sexual e como os professores podem observar os sinais e ajuda-las.
É na escola que as crianças passam parte significativa do seu tempo e têm contato com as primeiras experiências de socialização. É na escola onde elas estão livres de abusos sofridos no ambiente familiar. Sim, porque 75% da violência sofrida pela criança acontece num ambiente familiar. E infelizmente, na escola ela também se depara com bullying, racismo, homofobia… E a vivência constante com esses comportamentos criminosos, associados a tudo que ela traz em sua bagagem familiar, pode levar a criança a desenvolver transtornos mentais graves: como ansiedade generalizada, depressão recorrente, automutilação, ideação e/ou prática suicida.
Segundo uma pesquisa conduzida pelo Instituto Ayrton Senna, publicada em abril de 2022: 70% estudantes do 5º e 9º ano do ensino fundamental apresentam sintomas preocupantes de depressão e ansiedade. Dentre eles:
- Queda significativa no desempenho escolar
- Queixas de dor constantes de cabeça, nas costas ou enjoos
- Ganho ou perda de peso expressivos em um curto intervalo de tempo
- Mudança repentina de comportamento
- Timidez excessiva
- Crises de choro
- Queixa de falta de ar
- Apatia e falta de interesse generalizada.
- Crises de ansiedade
- Medo generalizado
- Negativismo extremo
- Sonolência excessiva
- Automutilação
É claro que a função do professor é promover o ensino e não educar e ainda cuidar da saúde mental de seus alunos. Mesmo porque os professores também precisam de ajuda: 3 em cada 5 no Brasil estão com depressão. Entretanto, é na escola que as crianças encontram o seu farol, o fôlego de vida e esperança. Por isso, faz-se muito necessário que primeiramente os professores cuidem de sua própria saúde mental e por amor às crianças, busquem informações de como ajuda-las em suas vastas experiências com o sofrimento.
E a primeira coisa que os professores devem exigir é o cumprimento da Lei 13.935, de 11 de dezembro de 2019 que prevê que as redes públicas de Educação Básica contarão com serviços da Psicologia e do Serviço Social.
Depois:
- Informar aos pais e à coordenação da escola sobre o aumento dos registros de casos de depressão e ansiedade em sua sala de aula e propor um cronograma de ações
- Saber acolher e respeitar a criança quando ela começar a se abrir
- Conhecer os serviços de saúde, os locais e endereços de atendimentos gratuitos e voluntários na região.
- Trabalhar com as crianças sobre a importância dos sentimentos e junto com elas fixarem cartazes no mural da escola
- Convidar profissionais especializados para palestras, rodas de conversas, cursos de capacitação para os professores e também para os pais.
A saúde mental das crianças no ambiente escolar deve ser considerada uma problemática de utilidade pública, pois uma educação pública de qualidade, integral, politécnica, inclusiva, onde tenha artes, esportes e profissionais da saúde mental, resolve inúmeras desordens psicoemocionais.
Não seja conivente com violências físicas, psicológicas e sexuais contra crianças, denuncie. Disque 100.
Veja este conteúdo no vídeo abaixo, com a neuropsicopedagoga Clara Dawn
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