O casamento é uma instituição em constante evolução e particularmente desafiadora. Entre finanças, criar filhos, administrar carreiras e manter viva a faísca da paixão… sem dúvida alguma, é uma construção onde ambos precisam se empenhar muitíssimo. É por isso que o professor e pesquisador de psicologia social, Eli J. Finkel, especialista em relacionamentos românticos, se concentra em atração interpessoal, casamento, resolução de conflitos e como nossos relacionamentos sociais influenciam a realização de nossas metas na vida.

Eli J. Finkel é casado e tem dois filhos, é o autor do best-seller “Casamento Tudo ou Nada: Como Funcionam os Melhores Casamentos”, onde ele explica que a função primária do casamento de 1620 a 1850 era comida, abrigo e proteção contra a violência; de 1850 a 1965, o propósito girava em torno do amor e do companheirismo. Mas hoje, um novo tipo de casamento surgiu, um voltado para a autodescoberta, autoestima e crescimento pessoal. Finkel combina pesquisa científica com conselhos práticos; ele considera caminhos para melhor comunicação e capacidade de resposta; ele oferece orientação sobre quando recalibrar nossas expectativas; e ele até mesmo apresenta um conjunto de “truques de amor” imperdíveis. Traduzimos e extraímos do seu livro o seguinte excerto:

Porque casamentos hoje são os mais difíceis da História

“A principal mudança foi que adicionamos, além da expectativa de que vamos amar e cuidar de nosso cônjuge, a expectativa de que nosso cônjuge nos ajude a crescer, nos ajude a nos tornar uma versão melhor de nós mesmos, uma versão mais autêntica de nós mesmos. A busca atual é de ter um parceiro que é simultaneamente responsável por nos fazer sentir amados, sexy e competentes, mas também ambiciosos, famintos e aspiracionais.

Como fazer a pessoa se sentir valorizada, amada e segura de forma genuína, evitando, ao mesmo tempo que isso crie uma relação em que o outro dependa exclusivamente do seu afeto para se sentir bem consigo mesma? Como você faz alguém se sentir enérgico e ambicioso para trabalhar duro, sem fazê-lo sentir que você desaprova a pessoa que ele é atualmente? A resposta para essas perguntas é, depende.

Você pode fazer isso dentro de um determinado casamento, mas ambos devem estar cientes de que é isso que esperam um do outro. Ambos devem estar cientes de que, em certo sentido, a busca desses objetivos pode ser incompatível com a disposição de realizá-los e, nesse caso, ambos precisam desenvolver uma maneira de se conectar de maneira a tornar isso possível.

Por exemplo, você pode tentar fornecer o seguinte suporte: ‘Estou tão orgulhoso de tudo que você conquistou e impressionado em como você trabalha constante e incansavelmente para melhorar a si mesmo’. Isso pode transmitir a sensação de que você aprova o esforço, mas reconhece que a pessoa está encontrando dificuldades. Certo?

O que você tem encontrando no relacionamento corresponde às suas expectativas? 

Eu apenas pediria a todos que pensem no que você está procurando no relacionamento e decidam se essas expectativas são realistas à luz de quem você é, quem é seu parceiro, qual é a cumplicidade que vocês têm juntos na elaboração e construção do relacionamento? Vocês vão conseguir todas essas coisas juntos? Ou, alternativamente, um acaba se esforçando muito mais do que outro? Ou ainda, vocês têm transferido a ‘responsabilidade’ da construção para, digamos, outro membro de sua rede social?

Acho que a maioria de nós ficará meio chocada com a quantidade de expectativas e necessidades que acumulamos num relacionamento. Não estou dizendo que as pessoas precisam diminuir suas expectativas, mas provavelmente é um mau plano jogar todas essas expectativas em um relacionamento e depois tentar fazer isso de forma barata. Isto é, tratar o tempo com seu cônjuge como algo que você tenta encaixar depois de cuidar das crianças e depois de terminar essa última coisa para o trabalho. Tempo real e atencioso para nosso cônjuge é algo que muitas vezes não programamos, ou programamos tempo insuficiente para isso.

A estratégia de recalibração

Existe a estratégia de recalibração, que é corrigir um desequilíbrio: não aumentando o investimento no casamento, mas diminuindo a quantidade de expectativas que exigindo do casamento.

Os casamentos atuais demandam muito mais necessidades a serem atendidas do que os de eras anteriores, mas esse não é um motivo para aceitar ‘o que vier pela frente’. “A grande pergunta sobre o casamento não é ‘estou pedindo demais?’ mas uma reflexão mais no estilo ‘o que eu quero deste casamento faz sentido em relação às demandas que essa união pode atender?’”. Não é uma pergunta fácil de ser respondida, mas que ajuda a recalibrar as expectativas do que a união pode entregar.

Como resolver isso?

A conclusão mais básica e clara é: não há receita mágica. Mas eu elaborei três estratégias que podem ser exploradas por casais e que, com base em pesquisas realizas apresentaram resultados positivos. São elas:

1 – Dedicar tempo exclusivo à construção da relação: Como base as declarações de Erich Fromm, psicanalista que defendia que o amor é uma construção e que não há um encaixe mágico quando se encontra alguém especial, em linhas gerais. Ao analisar casais, uma estratégia possível é a de que eles possam dedicar tempo suficiente para essa construção, com um olhar cuidadoso sobre tarefas e sobre a rotina de um modo geral.

2 – Fazer atividades juntos constantemente: Para quem não tem tempo suficiente para se dedicar ao casamento – ao menos até surgir o tempo – a segunda estratégia seria algo como “hackear o amor”. Consiste em fazer atividades curtas junto com o(a) parceiro(a) de forma constante. Atividades de relaxamento (assistir a um filme ou a uma série, por exemplo) e atividades até mesmo mais íntimas (dançar juntos, por exemplo) trazem aumento de qualidade do relacionamento em níveis similares. Porém, as do último grupo são as únicas que trazem algum tipo de aumento de percepção em relação à atração sobre o outro.

3 – Olhar para o relacionamento como alguém de fora, especialmente durante as brigas: Trata-se de um exercício de escrever, de forma imparcial, sobre os conflitos do casal como um terceiro que quer o bem dos dois. Leva aproximadamente 21 minutos  e traz benefícios em relação à percepção de queda de qualidade do relacionamento.

Abaixo uma palestra com o professor Eli Finkel. No rodapé tem a opção de colocar a legenda em Português. Confira.






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