“Todas as pessoas que são diferentes de mim desafiam minha maneira de ser. Se elas forem felizes, então, me desafiam enormemente. Você deve evitar atacar, não só por humildade, mas também por vaidade, porque a maior ‘bandeira’ que você dá acerca de sua dor é a sua crítica. Por exemplo, quando uma mulher mais velha diz que o modo de se vestir de uma mulher mais jovem é inadequado, ela está dando uma grande bandeira de seu incômodo. Tudo o incomoda se você não for bem trabalhado consigo.
A sociedade admira a força da intolerância (as pessoas pagam para ver outras se espancando em ringues), admira o ‘macho alfa’ (conceito biológico, da década de 1950, que designa um bando de leões e que foi transportado para também designar o comportamento humano) e admira aquele que toma atitudes (Hitler, por exemplo, iniciou uma guerra que causou a morte de cerca de 55 milhões de pessoas, entre as quais havia seis milhões de judeus, além de gays, ciganos, testemunhas de Jeová, militantes comunistas etc., e qualquer aula que eu dou, onde cito o seu nome, eletriza a plateia – até os adolescentes acordam e a turma do ‘fundão’ passa a prestar atenção.
Por outro lado, há Adenauer, católico, honesto, democrata e defensor dos direitos humanos, que subiu ao poder na Alemanha após Hitler, reergueu o país, pagou as indenizações de guerra e construiu a República Federal da Alemanha, mas ninguém sabe nada sobre ele e não há minisséries sobre sua história. Adenauer é o homem do diálogo que, com quase oitenta anos, reergueu o seu país com convicções democráticas inabaláveis, enquanto Hitler era um psicopata que afundou metade do mundo”.
Excerto da palestra “Os ódios que nos dividem”, com o professor Leandro Karnal. Assista na íntegra no vídeo abaixo.