Confiar não é saber tudo do outro. É não precisar saber exatamente porque confia. Quem de verdade ama não subjuga, não impõe presença, não reclama ausência, não prende. Antes, incentiva e contempla o voo do ser amado. Confiança não é um sentimento. É deliberação. Você decide confiar. Não necessariamente porque o outro merece ao se comportar de modo confiável, mas porque você merece estar em paz consigo mesma.

5 vezes em que o ciúme causa muito sofrimento às partes

O ciúme patológico e o ciúme delirante são condições complexas que podem ser entendidas a partir de uma perspectiva psicanalítica e psicológica, levando em conta diversos fatores que influenciam seu surgimento e manutenção. Vamos entender melhor:

1. Traumas na infância

A psicanálise sugere que traumas infantis podem ter um impacto duradouro na formação da personalidade e dos relacionamentos. Experiências negativas precoces, como abandono, rejeição ou abuso, podem criar uma sensação de insegurança e desconfiança que persiste na vida adulta. O ciúme pode ser uma manifestação dessas ansiedades profundas e não resolvidas.

Psicologicamente, a infância é um período crucial para o desenvolvimento emocional. Traumas infantis podem levar à formação de padrões de pensamento negativos e crenças disfuncionais sobre si mesmo e os outros. A falta de uma base segura na infância pode resultar em uma necessidade excessiva de controle e medo de perda no relacionamento adulto.

2. A pessoa foi traída e perdeu a confiança

A traição pode reativar traumas passados e ansiedades inconscientes, intensificando sentimentos de ciúme. A traição pode ser vista como uma repetição de experiências dolorosas anteriores, exacerbando o medo de ser abandonado ou substituído.

A experiência de traição pode abalar profundamente a confiança e a segurança no relacionamento. A pessoa pode desenvolver um padrão de hipervigilância e desconfiança, projetando suas ansiedades no parceiro. Isso pode levar a um ciclo de insegurança e ciúmes, onde cada ação do parceiro é interpretada como uma ameaça.

3. A pessoa tem hábito de trair e julga o comportamento do outro diante daquilo que ela é capaz de fazer

De acordo com a psicanálise, a projeção é um mecanismo de defesa onde a pessoa atribui aos outros seus próprios desejos e comportamentos inaceitáveis. Quem trai pode projetar suas tendências infiéis no parceiro, justificando seu próprio ciúme como uma forma de lidar com a culpa e a ansiedade interna.

Esse comportamento pode ser explicado pela teoria da dissonância cognitiva, onde a pessoa tenta alinhar suas ações com suas crenças. Sentir ciúmes do parceiro pode ser uma maneira de racionalizar e justificar seu próprio comportamento infiel, aliviando a tensão interna.

4. A pessoa tem baixa autoestima e dependência emocional do outro

A psicanálise enfatiza a importância do ego e da autoimagem. A baixa autoestima pode resultar em uma dependência excessiva do parceiro para validação e segurança emocional. O ciúme pode surgir como uma forma de proteger essa fonte externa de autoestima e evitar a dor da rejeição.

A baixa autoestima pode levar a uma dependência emocional, onde a pessoa se sente incompleta sem a aprovação e o afeto do parceiro. Isso cria um terreno fértil para o ciúme, pois qualquer ameaça percebida ao relacionamento é vista como uma ameaça à própria identidade e valor pessoal.

5. A pessoa passou por vários relacionamentos abusivos e ficou condicionada a acreditar que merece sofrer e vê o sofrimento até onde não existe

A psicanálise sugere que experiências repetidas de abuso podem internalizar um padrão de autossabotagem e autopunição. A pessoa pode acreditar inconscientemente que merece sofrer e, assim, interpretar sinais neutros ou positivos do parceiro como negativos, alimentando o ciúme e o sofrimento.

Os relacionamentos abusivos podem criar uma visão distorcida de si mesmo e dos outros. A pessoa pode desenvolver um padrão de pensamento negativo, onde espera o pior e vê ameaças onde não existem. Esse condicionamento pode perpetuar o ciúme e a insegurança, mesmo em relacionamentos saudáveis.

Como desenvolver maturidade e inteligência emocional para compreensão e controle do ciúme

Todo mundo sente ciúmes. Isso é indiscutível. É humano e está tudo bem. Mas fazer aquelas ceninhas de ciúmes é sinal de falta de maturidade e inteligência emocional.

Ora, as nossas emoções são recebidas mediante os sentimentos inconscientes das aflições da infância. Sabe quando a gente vê uma coisa que comia na infância e logo fica feliz? É porque o sentimento de prazer sentido na infância, volta à tona quando vê a comida.

Do mesmo jeito acontece com os sentimentos ruins como ciúme, inveja, medo, raiva… Quando estamos diante de situações que refletem um trauma da infância, as emoções expressas serão as mesmas da criança. E o que faz uma criança de 3 anos quando outra criança pega o seu brinquedo favorito? Ela faz escândalo.

Ter inteligência e maturidade emocional é conseguir, na vida adulta, reconhecer, nomear, avaliar e gerenciar as emoções e não agir como agia quando era criança. Porque, claro, você não é mais uma criança.

Confiar não é saber tudo do outro. É não precisar saber exatamente porque confia

Aprendi muito sobre ciúmes na teoria e na clínica, com meus analisando, mas foi praticando que eu descobri que para ter um relacionamento afetivo duradouro e satisfatório é preciso decidir e lutar juntos por: respeito mútuo, 100%  de confiança, aceitação da individualidade do outro e cumplicidade.

A maioria de nós se espanta com esse 100% antes da palavra “confiança”. Mas quem disse que para ter um relacionamento longo e satisfatório seria fácil? Quando você decide (e a palavra certa é mesmo “decide”) confiar 100% em alguém, você lhe oferece a responsabilidade de ser 100% confiável com você.

Ora, reflita comigo sobre estas duas situações:

O cônjuge parte numa longa viagem sozinho e ao seu lado, no voo, está uma criatura atraente e disposta a seduzi-lo. Suponhamos que ele seja o indivíduo que não tem 100% de confiança de sua parceira e assim pensará: “fazendo ou não, ela vai dizer que eu fiz. Então, o que me impede de fazer?”.

Mas se ele é o indivíduo que adquiriu 100% da responsabilidade de ser confiável, pois recebe 100% de confiança, pensará: “Eu não faria isso com alguém que confia 100% em mim”.

Quando um casal decide confiar 100% no que outro diz, uma mágica extraordinária acontece

Quando um casal decide confiar 100% no que outro diz, uma mágica extraordinária acontece no relacionamento. O ciúme, a mentira, os segredos, as desculpas esfarrapadas… desaparecem. No começo é bem difícil. Ligar para pessoa no meio da tarde e ela não atender ou estar com o celular desligado… Mil coisas passam por sua cabeça. Mas se você a respeita saberá que ela teve um motivo relevante para agir assim e quando ela chegar vai lhe dizer sem precisar ser questionado para isso.

Acredite, 100% de confiança funciona. Você se liberta. Você tem paz. Não vai questionar onde e com quem esteve. Não vai bisbilhotar as roupas, o celular, o computador, etc. Talvez você diga que isso facilitará que a pessoa venha lhe trair com muita tranquilidade.

Mas pergunto-lhe: você quer ter o controle da vida de uma pessoa por quê? Só para dizer que a você ninguém engana? Só para dizer que você sabe que o outro está lhe ferindo e por isso merece revide? Que tipo de relação pode sobreviver a isso? Do tipo entre tapas e beijos? Isso não é relação, isso não é amor. Isso é um pesadelo.

Se o outro trair, mentir… é problema dele. Sua mente estará em paz, você não sofrerá. Melhor confiar 100% e morrer inocente do que ser ‘muito esperta’ e viver doente em termos gerais. Aqui vale ressaltar, com grande importância, que se a falta de inteligência emocional conduz uma pessoa à uma patologia clínica, é necessário buscar ajuda profissional. E tudo bem. Nem sempre é possível sozinha.

Texto de Clara Dawn, escritora, psicanalista, pesquisadora e neuropsicopedagoga. Presidente do IPAM – Instituto de Pesquisas Arthur Miranda em prevenção à drogadição, aos transtornos mentais e ao suicídio na infância e na adolescência.






Clara Dawn é romancista, psicopedagoga, psicanalista, pesquisadora e palestrante com o tema: "A mente na infância e adolescência numa perspectiva preventiva aos transtornos mentais e ao suicídio na adolescência". É autora de 7 livros publicados, dentre eles, o romance "O Cortador de Hóstias", obra que tem como tema principal a pedofilia. Clara Dawn inclina sua narrativa à temas de relevância social. O racismo, a discriminação, a pedofilia, os conflitos existenciais e os emocionais estão sempre enlaçados em sua peculiar verve poética. Você encontra textos de Clara Dawn em claradawn.com; portalraizes.com Seus livros não são vendidos em livrarias. Pedidos pelo email: [email protected]