Sofia vem do parquinho chorando porque as amigas a excluíram da brincadeira. João não quer ir à escola porque não estudou para a prova. Malu está sofrendo porque as melhores amigas já têm celular e ela não. Pedro, 3 anos, chora desesperado porque não consegue completar o quebra cabeça e Lia se joga no chão porque quer comer biscoito quando faltam 15 minutos para o jantar. Situações cotidianas da infância.
É natural querermos ir tirar satisfação com as amigas de Sofia, ligar para a escola para dizer que João está com febre, comprar um celular para Malu, completar o jogo para Pedro e dar o biscoito para Lia.
Isso pode trazer alívio e alegria no curto prazo, mas é um atalho perigoso. Crianças precisam aprender a lidar com as pequenas frustrações e a solucionar problemas que representem um desafio à sua altura, ou seja, que elas sejam capazes de resolver com algum esforço. Não estou falando de criar frustrações artificiais nem de abandoná-las à própria sorte. Claro que não.
Trata-se de acolher seus sentimentos, mostrar que estamos ao seu lado, mas que cabe a elas encontrar soluções. Podemos ajudar, acalmar, orientar, apoiar, dar pistas, guiar com perguntas. Mas elas precisam desenvolver a capacidade de encontrar caminhos próprios para resolver seus problemas.
Isso contribui para desenvolver habilidades como paciência, adiamento da gratificação, imaginação, resiliência, solução de problemas, perseverança. E importante: ajuda a quebrar o narcisismo. Afinal, o mundo não existe apenas em função delas, nem gira em torno dos umbiguinhos, por mais lindos que sejam.
Texto do pediatra Daniel Becker