Desafiamos nossos incansáveis leitores a escreverem um poema sem a letra A. Muitos reclamaram da dificuldade; outros, mais fanáticos, nem conseguiram enviar o e-mail, porque resolveram excluir completamente o A de suas vidas. Mas alguns responderam e o resultado está aí, sem a incontornável vogal. Para a próxima edição, propomos como Desafio um poema reciclado ou baseado em outro poema famoso. Esperamos que nossos louváveis leitores não se incomodem com essa pedra no meio do caminho.
Signo – Henrique Fagundes Carvalho
No oco
dos versos,
entre verbos
e nomes
se esconde,
esquivo
o signo interdito.
Do silêncio imposto
despiu-se,
e insinuou-se,
e gritou-se,
nos interstícios.
Fez-se.
Interdisse-se:
o signo,
o primeiro,
o proibido.
Sexo Utópico – Barbara Hansen
desejo litúrgico
nos beijos tímidos
em seus olhos límpidos
nos sorrisos íntimos.
o silêncio tórrido
nos verbos implícitos,
meus dedos líricos
no músculo túrgido:
encontro cósmico,
gozo místico.
Irreconhecível – Solange Firmino
Perco-me de mim
fusco-me
desvio-me do reflexo ergo um muro
entre mim e o espelho
persiste o brilho
imóvel
de um rosto
silencioso
vestígios de sonhos
inocentes
se escondem nos olhos
do outro eu
que me vê
Em versos curtos – Priscila Mendes
Em versos curtos
Eu digo o que sinto…
Tenho sentimento de vidro
Um muro de Berlim dentro de mim…
Noite de frio
Tempo de outono, inverno…
Brilho do fogo
No silêncio sublime…
Medo do escuro
Vento frio…
Onde sonhei, chorei
Me decepcionei…
Escuto vozes e gritos
Segredo oculto
Mistérios ocultos
Medos ocultos
Desejos ocultos
No fim o silêncio de tudo!
Sem poder dizer – Carlos Junio
Começo de sem
Sem dizer, um roubo
Roubo sem morte
Morte sem óbito
Óbito sem enterro
Enterro sem defunto
Defunto sem corpo
Corpo de quem?
Corpo de gente
Gente que mente
Mente, ou cérebro
Cérebro sem corpo
Corpo sem membro
Membro sem sexo
Sexo sem gemido
Gemido sem mulher
Mulher sem medo
Medo sem motivo
Motivo de quê?
Motivo de viver
Viver e só morrer…
Usênci – Pedro Rabello
Foi sem se despedir,
sem bilhete triste
ou último beijo.