A importância da escola presencial vai além do que se possa descrever com o simplismo de que a educação deve, ou não, ser on-line, se os pais devem, ou não, assumir o ensino dos seus filhos…, pois há questões políticas e psicossociais muito complexas a serem observadas, e uma delas é que, com isolamento social, sem o contato com funcionários de creches, escolas ou até mesmo de outros familiares, crianças vítimas de violência, seja física, psicológica ou sexual, têm encontrado inúmeras barreiras para denunciar seus abusadores.
A morte do menino Henry Borel, de 4 anos, no Rio de Janeiro criou um alerta em relação a agressões contra crianças, especialmente durante a pandemia, quando as famílias estão em isolamento social. A mãe e o padrasto do menino, o vereador Dr. Jairinho (Solidariedade), foram presos nesta quinta-feira (8/4) sob a suspeita de atrapalhar a investigação.
O menino foi encontrado morto no apartamento da mãe, com diversas lesões graves pelo corpo. A mãe de Henry e Dr. Jairinho, padrasto do menino, disseram à polícia que o garoto teria sofrido um acidente doméstico no dia.
Segundo o delegado responsável pela investigação, Henrique Damasceno, hoje o casal é investigado por homicídio duplamente qualificado, por conta de tortura e impossibilidade de defesa da vítima. As informações são BBC.
O ambiente familiar cria uma ‘relação óbvia de desproteção’ para a criança que sofre abuso
A diretora-presidente do Instituto Liberta, Luciana Temer (capa), disse que o afastamento das crianças e adolescentes da escola rompeu o principal canal de denúncias usado por elas para relatar a violência: o professor.
“Dados do Ministério da Saúde dizem que mais de 70% dos casos de abuso infantil acontecem dentro da residência. O professor é um adulto que pode perceber esse tipo de situação, seja por uma marca física, por uma mudança no comportamento ou até mesmo por uma denúncia da criança. Sem ele, hoje essas vítimas estão impossibilitadas de se encontrar com alguém fora do ambiente familiar. E o ambiente familiar cria uma ‘relação óbvia de desproteção’ para a criança que sofre abuso. Isso é agravado porque a mãe, que em tese deveria proteger a criança também está submetida à violência, geralmente cometida pelo marido contra as duas, afirmou Luciana.
Mas como identificar se uma criança pode estar sofrendo abuso ou sendo violentada?
A Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) lançou a segunda edição de uma cartilha em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) chamada Manual de Atendimento às Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência. Nela, os especialistas, entre médicos e psicólogos, dão dicas de como identificar possíveis sinais de que uma criança está sofrendo algum tipo de violência.
Um dos principais alertas é uma mudança drástica de comportamento. É quando uma criança agitada passa a ficar mais quieta, acuada. Ou uma criança alegre que se torna triste e até agressiva.
O adulto também deve ficar atento a sinais de agressão aparentes no corpo da criança, como vergões, roxos ou machucados. Os especialistas explicam, porém, que nem sempre as agressões deixam marcas no corpo.
A criança agredida, dizem os especialistas, também pode apresentar alteração no sono, seja ter insônia ou passar a dormir demais, e na alimentação. Neste caso, algumas podem passar a comer por ansiedade, enquanto outras podem se tornar anoréxicas ou desenvolver bulimia. Outro possível sinal apresentado por uma criança que sofre violência é apresentar depressão, sinais de baixa autoestima e deixar de confiar nas pessoas ao redor dela.
A família está fechada, mas tem um vizinho que escuta agressões…
Luciana Temer explica que muitas vezes as crianças precisam contar com a ajuda de um adulto de fora do ambiente familiar para contar suas angústias e fazer denúncias. Essa pessoa também pode monitorar a criança e perceber alguns sinais de violência sem mesmo que a vítima precise contar. Seja dentro ou fora do círculo familiar, é preciso prestar atenção aos sinais dados pelas crianças.
“Eu faço um apelo para que vizinhos e familiares fiquem atentos, na medida do possível, se a criança tiver um comportamento estranho. A família está fechada, mas tem um vizinho que escuta agressões, tem uma tia que tem contato distante e percebe. É um chamado de responsabilidade de todos nós, principalmente quando a criança está mais confinada”, afirmou. Quem perceber alguma atitude suspeita de abuso infantil pode fazer uma denúncia pelo Disque 100 ou acionar diretamente a polícia pelo 190.