A psicóloga e diretora de Atenção à Saúde da Comunidade da Universidade de Brasília (UnB), Larissa Polejack, em entrevista ao CB.Saúde sobre como a pandemia tem afetado a saúde mental das pessoas em todo o país. A seguir, a transcrição de alguns trechos.
“É importante que a gente entenda que já estamos vivendo um luto coletivo. Precisamos reconhecer. Quando olhamos para mais de 130 mil mortos, não é possível que a gente mantenha os nossos olhos fechados e não perceba que, como sociedade, precisamos entender que estamos vivendo um luto coletivo. Seja um luto pela morte de muitos brasileiros, que já foram, seja um luto de projetos de vida. Um trabalho que eu tinha pensado, um estudo que eu ia fazer fora, o ano letivo… Várias coisas mudaram”. Larissa Polejack
“O luto precisa ser vivenciado para que a gente possa, como um grupo, como sociedade, sair dele. Dar a mão, reconhecer que tem sim uma perda, que tem um impacto. É o primeiro passo para a gente conseguir seguir adiante, para a gente reconhecer os legados que temos, os recursos que temos para lidar com isso. Quanto mais a gente negar que a gente está vivenciando isso, mais sofrimento a gente vai ter”. Larissa Polejack
Aceitar a realidade é processo terapêutico fundamental
“Uma das questões importantes que a gente fala em qualquer terapia que você vai fazer é que, no primeiro passo de você querer fazer uma terapia, já começa o tratamento. Essa é um dos principais problemas enfrentados no momento, não só em relação às questões psicológicas, mas para a contenção da doença em si. É extremamente perigosa, tanto para você, quanto para as pessoas com as quais você convive — querendo ou não, você está se expondo a uma contaminação e pode levar isso para dentro da casa, das pessoas que você ama, — quanto para a sociedade como um todo, porque quanto mais a gente negar que a gente está vivendo, de fato, uma crise sanitária; que a gente está vivendo, de fato, um risco para todos, menos a gente vai se cuidar, mais mortes a gente vai ter e mais tempo a gente vai passar nessa situação. Então, essa negação é perniciosa por todos os lados”. Larissa Polejack
“Por outro lado, a gente vê outras pessoas que estão com o medo bastante aumentado. Então, a gente tem como se fossem extremos. A gente tem a negação e tem gente com muito medo. Medo de fazer qualquer coisa, de sair de casa, um isolamento exacerbado”. Larissa Polejack