Há um pensamento muito extenso de Immanuel Kant, um filosofo alemão, que pode ser sintetizado numa ideia marcante: “Tudo o que não puder contar como fez, não faça, porque se há razões para não contar, há razões para não fazer”.
Evidentemente que Kant não está falando contra a privacidade, não está falando contra o sigilo, não está falando contra a intimidade, Kant está falando contra a vergonha, isto é, eu não posso contar como fiz, porque se alguém souber que fiz eu ficarei com vergonha de ter feito.
Mas é dificílimo fazer isso que Kant levanta. Afinal, cada um, e cada uma, de nós é tentado ou tentada, todos os dias para arranhar a integridade na família, no casamento, na comunidade, no trabalho, na política. Nós não somos imunes ao acidente, desde que especialmente a gente esteja distraído. Entretanto, nós podemos ser imunes à intenção, desde que não estejamos distraídos.
É só você lembrar o seguinte: na Ilíada [de Homero] se conta sobre um semideus grego, chamado ‘Aquiles’, perece com uma flechada no calcanhar. Aquiles morre com a flechada no calcanhar porque ele achou que não tinha o ‘Calcanhar de Aquiles’, ou seja, achou que fosse invulnerável. E a melhor maneira de se tornar vulnerável é achar que é invulnerável; a melhor maneira de ficar inseguro é achar que já está seguro; a melhor maneira de ficar desprotegido, é achar que já está protegido.
Por isso, em relação ao tema da ética e da integridade, é necessário que a gente saiba o tempo todo que nenhum e nenhuma de nós é imune à fratura ética ao arranhar a nossa integridade. Nós somos capazes sim de fazer o que a gente não deve. Neste sentido é preciso que, numa organização, numa empresa, num grupo de homens e de mulheres (…), cuidemos da ética. A integridade é uma plantinha que a gente tem que regar diariamente [estar atento], do contrário ela perde a vitalidade. É uma energia renovável. Ou seja, precisa ser renovada”.
Esta é uma transcrição feita pelo Portal Raízes de um trecho da fala do professor Mario Sergio Cortella, extraído de seu canal do youtube.