O psiquiatra Rafael Euba defende que não devemos procurar a felicidade, uma vez que os seres humanos “não foram desenhados” para este estado prolongado e/ou permanente de bem-estar. A sua constante procura pode, segundo defende o especialista, desencadear frustração e insatisfação.

Num artigo publicado no portal The Conversation, Euba, especialista do King’s College London, no Reino Unido, explica que a felicidade é uma mera construção cultural abstrata.

Ao contrário do sofrimento e do prazer, a felicidade não foi associada a nenhuma das áreas do cérebro humano, carecendo por isso de uma “base biológica”, explica o autor.

Euba argumenta que a natureza programou o ser humano para alcançar dois objetivos essenciais: a sobrevivência e a reprodução, “tal como todas as outras criaturas do mundo natural”, sustentou o especialista em declarações ao mesmo portal.

A nível neurológico, o processo de evolução “desencoraja o estado de alegria, já que nos leva a diminuir a nossa proteção contra potenciais perigos para nossa a sobrevivência”.

No seu entender, a natureza demonstra claramente essas prioridades ao fornecer ao nosso cérebro um lobo frontal desenvolvido, favorecendo as nossas habilidades analíticas face à capacidade natural de experimentar a felicidade.

O psiquiatra recorda ainda que os seres humanos são capazes de sentir em simultâneo emoções positivas e negativas que são processadas em partes diferentes do cérebro. “Essa coexistência de prazer e dor com a nossa realidade corresponde melhor” do que a expectativa de felicidade absoluta.

O especialista conclui que, se dedicarmos muito tempo e esforço em procura da felicidade, tentando fugir, em simultâneo, de “qualquer nível de sofrimento”, só iremos conseguir “promover um sentimento de falta e de frustração“.

Assim, o cientista acredita que devemos entender a insatisfação ocasional como parte da nossa essência humana e não como um sinal de fracasso.

Por tudo isto, insiste, “os seres humanos não foram desenhados” para alcançar a felicidade.






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