A maturidade está me fazendo melhor, acredite! Antes dos trinta, eu acreditava que quarenta era coisa de grisalho, coroa e outros rótulos mais. Mas, quando vamos contando as primaveras, virando as décadas, percebemos que cada etapa da vida tem seus encantos e desesperos. Não posso falar que entrar nos enta é ótimo, mas posso assumir que hoje me sinto mais livre e menos submissa à vida.
Já não sigo mais a moda, porque eu mesmo escolho o que me faz confortável. Não aceito propagandas enganosas com relação às pessoas, porque agora pode deduzir um alguém a quilômetros de distâncias. Não admito que me esnobem ou me deixem no vácuo, porque aprendi a dizer não antes. Não permito que ninguém me corte ao meio por puro prazer ou maldade, porque aprendi a me defender. Não me exponho nunca mais para pessoas sem conteúdo e sem amor.
A maturidade me ensinou que dois + dois não precisa ser exatamente 4, porque posso inventar maneiras diferenciadas de resolver os problemas. Nada é exato e nem nossos princípios serão os mesmos durante a vida. Mudamos de humor, de atitudes, de acreditares durante os anos como mudamos de roupa, então fica mais do que certo que somos momentos únicos em épocas diferentes (já escrevi isso antes), ainda bem.
Quando eu quarentei, digo debutei, foram aparecendo as “zincas” também: dor no joelho, comecei gradualmente a enxergar menos de perto e tive aquele pânico que muita gente tem de estar começando a subir a serra para descer. Então, respirei fundo, olhei para o mundo e pensei: foda-se, eu vou ser mais gente agora. Assim, eu fiz.
Como é bom olhar para as bobeiras que tinha antes. Como é bom me sentir liberta daquelas idiotices que eu pensava estar certa: arrumar casa todos os dias impecavelmente, ficar sem jeito se alguém resolvesse pagar um café, se sentir culpada pelo beijo no colega, de ter ficado levemente bêbada na festa da amiga. Quer saber? Não piorei, apenas faço o que quero, não que eu seja inconsequente ou me tornei horrível aos quarenta. Apenas me sinto mais mulher, mais independente e menos tímida.
A idade nos alerta que é preciso viver todos os sentidos e que nada deve ser adiado ou vivido sem intensidade. Com a idade aprendemos a olhar mais para dentro das pessoas, nossa paciência começa a diminuir e que se dane o que pensam de mim. Começamos a apostar mais em nós do que permitir jogadas furadas com nossas vidas.
Tá aí, eu sou quarentona assumida, com dez e louvor! Não tenho mais rosto de menina, comecei a ganhar alguns quilos e não acredito na idade da loba. Não sou loba, sou uma mulher que sei o que estou fazendo, e acredito que isso seja suficiente para que eu seja feliz.
Já não me entristece, mas se me chamam de senhora pelas ruas ou que vão me chamar de tia, podem me chamar do que quiserem, desde que não me faltem com respeito. Meus cabelos já branquearam há um bom tempo e para isso basta apenas retoques na raiz; a flacidez está me abraçando e sinto a lombar de vez em quando, isto não é velhice, é a idade que marca a gente para quem quer viver mais de cem anos como eu.
Percebo a idade quando conheço músicas e filmes de antigamente, e que os adolescentes ou adultos mais novos nunca ouviram falar, mas tudo bem… Tudo bem porque estou vivendo e tenho histórias e memórias para contar.
Eu sou quarentona assumida, sem qualquer identidade falsa para viver a vida. Tudo em mim é 100% natural, integral e sem glúten, e só não faço dieta para o amor.
Texto de Simone Guerra*
*Simone Guerra, mãe, educadora e escritora. Autora do romance “Recomeçar Sem Medo”. Co-autora do livro Vestidas de Palavras. Premiada em concursos literários e pedagógicos. Entre sentimentos e palavras, leva a vida em prosa e poema.