Psicologia e Comportamento

6 sinais de que você teve uma infância tóxica

A infância é a etapa da vida na qual começamos a conhecer o mundo, a nos desenvolvermos e a gerenciar aquilo com o que convivemos. Por outro lado, é um período no qual somos especialmente vulneráveis e dependentes. Assim, o que acontece têm muitas possibilidades de ficar aderido a nossas raízes, sendo difícil de modificar.

Isso vale tanto para uma infância positiva quanto negativa, e os resultados posteriores são totalmente diferentes. É uma vantagem ou uma desvantagem que nos é dada por sorte e, de certo modo, não temos muito o que fazer.

Infância perdida

Este período, como o resto dos que compõem a nossa história vital, uma vez passado já não voltará. Uma infância tóxica se traduz em uma infância triste, infeliz ou complicada.

Com frequência o fato de não termos podido viver estes anos de uma maneira satisfatória nos enche de rancor direcionado a aquelas pessoas por quem temos sentimentos muito profundos.Ou seja, nossos vínculos emocionais da infância costumam sobreviver, de forma frequente, em um enfrentamento entre o amor e o rancor.

Assim, os sentimentos encontrados não são frutos do acaso, e sim da avaliação posterior sobre as injustiças, a desconfiança, o medo, o abandono, e a humilhação que um dia tivemos que sofrer. O primeiro passo é reconhecer os sinais. Confira 6 deles:

1. Você se apega às emoções negativas

Se você reconhece que sofreu maus-tratos de seus pais ou dos adultos que eram responsáveis por você, então também reconhece como isso faz você se sentir. Quando você é confrontado com pensamentos de como foi a sua infância, um caldeirão de emoções negativas ferve dentro de você.

Essas emoções negativas são muitas vezes uma mistura de medo, ansiedade, rejeição, sufocamento ou dor emocional generalizada. Você tem dificuldade em identificar-se com amigos e colegas que obtêm prazer de seus relacionamentos com suas mães.

Você pode até fantasiar sobre como seria bom se você tivesse tido uma criação que lhe evocasse sentimentos positivos e amorosos. Se ao analisar isso, você não conseguir perdoar e libertar a suas memórias tóxicas, então estará suprimindo suas emoções negativas e ainda assumindo parte da culpa. Você pode se pegar dizendo:

  • Eu não fui uma criança fácil de criar;
  • Eu poderia ter feito mais para facilitar;
  • Meus pais tinham muitos problemas para resolver;
  • É assim mesmo, é o jeito deles, também foram criados assim;
  • Eles fizeram o melhor que puderam.

Essas expressões são boas se vierem de uma posição de cura, mas não são boas quando são usadas para evitar a realidade e suprimir seu trauma interior lhe inferiorizando, lhe vitimizando no monopólio da dor.

2. Você reage ao conflito com submissão ou agressão

A parentalidade tóxica faz com que as crianças desenvolvam métodos disfuncionais de resolução de conflitos para lidar com uma figura de autoridade hostil. Se sua mãe ou o seu pai, ou quem lhe criou, quebrou seu espírito, você aprendeu a lidar com o conflito pela submissão a todo custo. Qual é o propósito de se levantar se você vai ser derrubado?

Como adulto, você evita conflitos, negligencia a si mesmo quando necessário e recua na defesa dos outros. Se sua infância o seu espírito foi quebrado na infância (se pisaram em todo o seu coração), então você aprendeu a permanecer passivo em sua posição de fraqueza, mas desenvolveu e internalizou a agressão induzida pela dor.

Você determinou que ninguém vai lhe machucar dessa maneira novamente. Quando adulto, você encontra um conflito agressivo e pode atacar com pouca ou nenhuma provocação. A infância tóxica incitou você a dar o primeiro “soco” em quem quer que seja, quando essa pessoa lhe faz sentir emocionalmente vulnerável.

3. Você esconde afeição

Pessoas que vivenciaram uma infância tóxica retêm o afeto de seus filhos como uma forma de punição. Eles aprendem que o amor é condicional, baseado em quão profundamente eles a agradam. Algumas pessoas podem oferecer pouca ou nenhuma afeição, mesmo quando a criança se saiu bem.

Em resposta, algumas crianças procuram constantemente aprovação, esperando receber o menor sinal de afeto.

Outros decidem não se incomodar, isolando-se emocionalmente e evitando o contato. Em ambos os casos, as crianças são emocionalmente manipuladas e aprendem que o afeto amoroso é uma mercadoria condicional e escassa.

Como adulto, você não sabe como lidar com o afeto livremente dado e vive antecipando que ele será arrancado de repente. Sua alegria e medo produzem mudanças extremas de humor emocional que seu parceiro romântico não entende.

Não é incomum que você retenha o carinho como meio de autodefesa ou castigue seu parceiro pela menor indiscrição. É a sua maneira de proteger suas emoções vulneráveis ​​e comunicar sua dor.

4. Você procura relacionamentos codependentes

Os relacionamentos codependentes envolvem um parceiro passivo e um dominante que ambos encontram satisfação na dependência emocional e/ou prática do parceiro passivo no parceiro dominante.

O parceiro passivo se sente amado quando alguém está disposto a fazer tudo por ela. O parceiro dominante se sente amado quando é necessário. Quanto maior a dependência do parceiro, mais amado ele se sente.

Numa relação tóxica entre mãe e filho, por exemplo,  a mãe age como o parceiro dominante. Ela recorre a medidas extremas para garantir que seu filho sempre precise dela, dificultando o desenvolvimento saudável.

A parentalidade codependente produz crianças emocionalmente e/ou praticamente codependentes. Uma criança se tornará passiva ou dominante como adulta, dependendo de sua personalidade e da força de sua vontade.

Codependentes passivos

Como adulto, se você é o parceiro passivo, você se sente amado quando seu cônjuge gerencia sua vida por você. Também é comum que você espere que seu cônjuge atenda a todas as suas necessidades emocionais.

Você sente que precisa de seu parceiro para viver, e em seu estilo passivo-agressivo, exige que seu parceiro demonstre amor dessa maneira. Você se sente amado e rejeitado quando seu cônjuge não pode ou não vai deixar tudo de lado para atender a todas as suas necessidades.

Codependentes Dominantes

Como adulto, se você é o parceiro dominante, você tem uma necessidade insaciável de ser necessário e pode até criar situações que garantam sua indispensabilidade.

A dependência do seu parceiro, praticamente e emocionalmente, faz com que você se sinta seguro. Se você é necessário, você não será deixado de lado.

Você tem fortes tendências de controle em relação ao mundo exterior, mas permanece emocionalmente dependente de outra pessoa.

Seu bem-estar emocional depende de quanto os outros precisam de você. Se o seu cônjuge afirma alguma independência, você experimenta sentimentos de medo e insegurança e até se sente mal amado.

5. Você é um crítico de todos, especialmente você mesmo

Parentalidade tóxica descarrega montes de críticas às crianças. Essas mães criticam duramente cada comportamento que não lhes agrada, e a menor infração desencadeia repreensão ou punição desproporcionais.

A psicologia há muito nos ensina que todos desenvolvemos uma voz interior e, para muitos adultos, sua voz interior pertence a um de seus pais, quer eles percebam isso ou não.

Como filho de uma criação tóxica, você sempre se sente monitorado, como se alguém estivesse observando e criticando seu desempenho diário. Você se julga duramente por cada erro ou revés.

O fracasso traz uma crise emocional em você, pois o seu valor depende apenas dos seus sucessos. Você constantemente batalha a voz em sua cabeça que implacavelmente repete que você não é bom o suficiente ou bem sucedido o suficiente.

Você tem tendências perfeccionistas e expectativas elevadas dos outros, tornando-se não apenas seu pior crítico, mas também o de todo mundo.

6. Você precisa de validação constante

Crianças que tiveram uma criação tóxica se tornam adultos com baixa auto-estima. Seu ambiente de infância foi marcado por críticas, falta de afeição, amor condicional, domínio e conflito.

Elas são atormentadas por sentimentos de inutilidade e buscam validação das pessoas mais próximas a elas. Elas desejam principalmente a validação frequente através de:

  1. Reconhecimento por bom comportamento ou realizações
  2. Reafirmação constante de que são amadas

Quando adulto, você acredita que não é digno de amor e teme que os outros logo percebam isso. Quando você faz bem, você garante que aqueles ao seu redor saibam sobre isso.

Você precisa dar ao seu círculo íntimo uma razão para continuar amando você. Sua baixa autoestima impulsiona sua necessidade desesperada de elogios e palavras de aprovação de sua família e amigos.

Seus louvores ajudam você a se sentir mais seguro em seu relacionamento com eles. Muitas vezes, isso é confundido com orgulho, mas no seu caso, é uma marca registrada de insegurança. Se você não receber a validação deles, você se sentirá desvalorizado ou sem valor.

Em seu estado vulnerável, você supõe subconscientemente que os outros vão “amar” você do modo como foi na infância, e você procura os sinais. Você monitora seu parceiro, família e amigos para indicações de que o amor deles está diminuindo.

Como resultado, você muitas vezes reage excessivamente a transgressões menores, interpretando-as como prova de que você não é digno. Sua necessidade de validação mantém você numa montanha-russa emocional, porque você raramente se sente contente consigo mesmo e olha para os outros em busca de satisfação emocional.

Você tem o poder de mudar

Cura de relacionamentos tóxicos leva tempo. Você não pode controlar o mundo ao seu redor ou aqueles que estão nele, mas você pode ter poder sobre suas reações.

Escolha procurar conselhos sábios e descubra como seu passado e suas emoções afetam sua vida atual. Você não precisa viver nas correntes do ontem. Em vez disso, opte por dar passos diários em direção a um novo futuro.

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Texto de Higher Perspectives, traduzido e adaptado por Portal Raízes. 

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As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

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