Psicologia e Comportamento

Especialista indica 5 maneiras de interromper o ciclo de comportamento abusivo na família

Você não tem culpa de ter nascido num ambiente familiar abusivo e repleto de sofrimento psíquico, mas você pode se cuidar para que de você nasça um ambiente familiar saudável. As crianças que cresceram em lares abusivos muitas vezes continuam os padrões e comportamentos não saudáveis ​​que aprenderam na infância por muitos anos depois de sair de casa.

Por mais que evitemos fazê-lo, muitas pessoas repetem os comportamentos não saudáveis ​​que aprenderam na infância em suas famílias e círculos sociais até a idade adulta, sem saber que não são saudáveis ​​até que algo os force a questionar seus comportamentos ou experiências. ” Por que eu sempre escolho as pessoas que me usam?” e ” Por que sempre me sinto atraída por homens abusivos?”. Estas são algumas das perguntas que levam as pessoas a procurarem a psicoterapia.

“Eu não quero fazer essas coisas com meus filhos” – é uma afirmação comum de pessoas que reconhecem que suas experiências foram injustas. No entanto, há uma forte chance de seus cuidadores terem lamentado da mesma maneira antes de ter seus filhos. Todos nós partimos do princípio de fazermos melhor do que os nossos pais/tutores. Entretanto, desconstruir anos e anos de padrões de comportamentos abusivos leva tempo e dedicação. E é por isso que é mais fácil repetir o padrão que nos foi passado, do que desconstruí-lo e se colocar à disposição de erguer um modo saudável de proceder.

Estas 5 dicas podem ajudá-lo em sua jornada em direção à cura e quebrar dos padrões de comportamentos não saudáveis ​​decorrentes do trauma:

1. Reconheça que o que aconteceu com você foi traumático

Este é um dos passos mais difíceis, mas é o mais essencial. Se você não admitir e nomear o que aconteceu de angustiante em sua infância e adolescência, o trauma continuará afetando a sua vida de modo inconsciente, causando sofrimento psíquico, ansiedade, estresse, agressividade e até pânico nos momentos de tomadas de decisões e quando os relacionamentos revelarem desafios.

Reconhecer os traumas, não se trata de culpar A ou B no ciclo familiar, se trata simplesmente de aceitar o que aconteceu com você como uma verdade que precisa ser enfrentada e ressignificada (dar um novo significado no qual você possa superar).

Muitas pessoas optam por admitir isso para si mesmas através do diário, na psicoterapia, com um parceiro, um guia espiritual ou amigo próximo. Você não precisa confrontar seus cuidadores para iniciar sua jornada de cura. Se eles têm um histórico de ignorar os seus sentimentos, é bem provável que continuem a fazer isso e dessa maneira essa frustração poderá lhe fazer desistir do seu processo de autocura.

2. Encontre apoio para fazer o trabalho interno

A maneira número um de caminhar em direção ao seu processo de autocura é trabalhar nisso. É difícil. É doloroso. Muitas pessoas optam por procurar um psicoterapeuta, porque esse processo pode realmente ser desencadeante de algumas feridas que você nem sabia possuir, mas essa dificuldade não deve ser um obstáculo tão grande que você não consiga atravessar. Você conseguirá dando meio passo por vez. Todos os dias caminhe um pouquinho em sua própria direção. Mas se isole na dor, peça ajuda e confie no processo.

3. Faça um inventário de suas áreas de crescimento

Esta não é uma lista de imperfeições para você corrigir, mas sim uma lista de áreas que você poderá trabalhar para melhorar sua autoestima, assim como seus relacionamentos. Isso requer autoconsciência e força, pois não é fácil olhar para nossas deficiências.

Dê uma olhada nos padrões de comportamento que se repetem em todos os seus relacionamentos, tanto platônicos quanto afetivos efetivos. Talvez você ache que você se irrita com facilidade e queira mudar isso, anote. Ou talvez você perceba que do nada você perde o interesse em alguém e acaba o rejeitando sem motivo aparente, anota. Essas não são coisas que vão mudar da noite para o dia, mas podem ser trabalhadas, uma a uma,  ao longo de sua jornada de crescimento.

4. Encontre espaço para a autocompaixão todos os dias

As crianças que cresceram em ambientes traumáticos raramente receberam compaixão e espaço para autorreflexão. Portanto, isso pode parecer desconfortável no início. Ter compaixão de si mesmo, de suas emoções, de sua alma, de seu corpo e começar, por exemplo a cuidar da alimentação, a fazer exercícios, ioga ou meditação pode parecer estranho para uma pessoa que foi ensinada que seu corpo não é precioso e que você inteiro merece ser respeitado, cuidado e amado.

Muitas crianças que cresceram em um ambiente caótico só aprenderam a amar seus corpos com alimentos não saudáveis, drogas ou outras formas de autodestruição. Substitua lentamente alguns desses hábitos não saudáveis ​​enquanto aumenta a quantidade de tempo demonstrando amor próprio e compaixão à mente, às suas emoções e ao seu corpo.

5. Esteja mais aberto a conversas com seus entes sobre o seu processo de desconstrução dos comportamentos abusivos

Esta é uma área em que todos devemos melhorar, pois nunca é fácil ouvir como impactamos ou até mesmo prejudicamos os outros. Crescendo em famílias onde a comunicação saudável e a empatia não são mostradas, as crianças aprendem rapidamente que esses tipos de conversas são ameaçadoras ou conflitantes. Eles então podem se tornar adultos que evitam conversas difíceis com os outros devido ao desconforto que trazem.

Recomendo dizer aos entes queridos: “Estou trabalhando para quebrar o ciclo de alguns maus comportamentos que aprendi. Estou tentando ser mais aberto a aprender  me comprometer com um comportamento saudável que possa beneficiar a mim e a todos que me cerca. Eu gostaria muito que vocês me ajudassem com amor e sem julgamentos”.

Da redação de Portal Raízes, editado a partir dos saberes de Kaytee Gillis, psicoterapeuta especialista em sobreviventes de traumas familiares.

Portal Raízes

As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

Recent Posts

Ter um chefe ruim pode causar danos reais à saúde integral dos funcionários – Por Travis Bradberry

O “chefe ruim” se tornou uma parte cômica da cultura de trabalho, permeando filmes e…

7 minutos ago

A cada 10 mortes no Brasil, 1 pode ser atribuída ao consumo de produtos ultraprocessados

"A alma da fome é política", dizia Herbert José de Sousa, o Betinho (capa), ao…

1 dia ago

Redes sociais não são laços sociais: rede é desconectável, mas os laços são eternos – Zygmunt Bauman

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925/2017), autor de mais de trinta obras publicadas no Brasil,…

1 dia ago

Negro ou Preto? É preto – Por Nabby Clifford

Neste 20 de novembro de 2024 é a primeira vez em que esta dada é…

3 dias ago

O dia 20 de novembro e o mito da democracia racial no Brasil

Qual é o lugar que a população negra ocupa no Brasil de hoje depois de…

3 dias ago

“Não é a raça que produz o racismo, é o racismo que separa os seres em raças” – Mia Couto

Geneticamente falando, a cor da pele difere entre clara, escura, muito clara, muito escura. Enfim,…

4 dias ago