Assim como a felicidade, o sucesso é um conceito profundamente subjetivo — ou seja, cada pessoa o conceitua e o vivencia de maneira particular. Para alguns, sucesso é ter uma família numerosa e bem estruturada; para outros, uma vida social agitada e cheia de amigos. Pode vir por meio da realização de uma carreira sólida e de uma vida financeira estável; para muitos, está ligado à beleza, juventude, seguidores e curtidas nas redes sociais. Há ainda quem deseje tudo isso junto. Mas o sucesso não é um estado fixo. Aquilo que em um momento da vida era considerado essencial pode, em outro, perder relevância. E tudo bem. As prioridades mudam.
Sem julgar o que é melhor, ou pior para cada um, a reflexão que proponho é: o sucesso que você busca ou vivencia está alinhado com sua felicidade e qualidade de vida? Está em sintonia com quem você é e com o que deseja verdadeiramente?
Se a resposta for sim, significa que você está fazendo escolhas conscientes e lúcidas, equilibrando o ser e o ter — e isso traz alinhamento com seu propósito de vida, com a realidade que você deseja viver, e com os valores que você escolheu para si.
Mas, se a resposta for não, pode haver duas possibilidades: ou você está vivendo uma vida massificada, ou outras pessoas estão escolhendo por você. Em outras palavras, a vida que você está levando não é, de fato, sua. E uma possibilidade não exclui a outra — ao contrário, muitas vezes se complementam.
O sucesso, por si só, não é o problema. O problema se instala quando essa busca — seja por sucesso, felicidade ou qualquer outro ideal — se torna alienada, massificada, obsessiva. Quando deixa de ser subjetiva, deixa também de ser saudável.
Quando o padrão vira prisão
Para ilustrar essa ideia, pensemos nos padrões de beleza cruelmente impostos pela sociedade. Digo “cruelmente” porque sabemos que há diversos biotipos — e, como o próprio nome diz, padrão é apenas um modelo, uma referência, um arquétipo. Muitas vezes, um mito inalcançável para a maioria, o que gera frustração e sofrimento profundo em quem tenta, a qualquer custo, se enquadrar.
Você já se perguntou o quanto uma pessoa pode se tornar refém daquilo que se elege como padrão de beleza? Quem define isso? Por quê? Para quem? E por que você teria que ser igual aos outros?
O belo está em ter um estilo próprio. Sua originalidade é sua marca no mundo
Quando você rejeita seu biotipo, seu corpo, seu cabelo, sua cor de pele, a cor dos seus olhos, está se anulando — está afirmando, mesmo que inconscientemente, que aquilo que é originalmente seu não é válido como referência de beleza. Isso afeta diretamente sua saúde mental — e, por vezes, até a física, quando leva a intervenções e procedimentos que, muitas vezes, resultam em desastres.
Não estou dizendo que você deva (ou não) mudar algo em si. A proposta aqui é outra: reconhecer que a originalidade de cada um é sagrada — e que os padrões mudam o tempo todo. Ninguém precisa ser igual a ninguém. A riqueza está na diversidade. Você não é uma tendência. Você é uma pessoa com individualidade e personalidade.
A felicidade tem filtro?
Você é feliz correndo atrás do cabelo da moda? Da roupa da moda? Do corpo da moda? Dos lábios da moda? O mais triste é que muita gente fundamenta sua realidade numa falsa realidade criada nas redes sociais. Uma perfeição que só existe nos filtros. Um sucesso que só existe num clique bem calculado de uma selfie com fundo paradisíaco. Uma felicidade que, muitas vezes, está estampada num sorriso falso — pois, por trás dele, há uma vida com os mesmos desafios, lutas e dilemas que todos nós enfrentamos. O resto? Fica fora do enquadramento. Viver bem não é sobre ter sucesso. É sobre ser feliz. E, para conquistar um “lugar ao sol”, é preciso antes conquistar a paz de espírito, a autoaceitação e o amor-próprio.
A exclusão gera dor porque nos priva do pertencimento
Quantas coisas fazemos para pertencer — mesmo que isso nos custe nossa individualidade e nossa paz? Agimos assim porque queremos ser aceitos. A rejeição, a exclusão, o sentimento de não pertencimento está entre as dores mais profundas que um ser humano pode sentir. E, para evitá-las, às vezes nos anulamos. Abandonamos o nosso “eu”, a nossa essência. Um preço alto demais a se pagar.
O desejo de pertencimento é tão intenso que, por vezes, preferimos ser iguais aos outros para sermos aceitos — a nos aceitarmos como somos. É doloroso não estar satisfeito com o próprio corpo e com outras características físicas. Exige muito esforço desenvolver a autoaceitação e fortalecer a autoimagem, para não ser engolido por esses padrões impostos.
Mas esse esforço vale a pena. Vale pela nossa saúde mental. Vale pelo nosso bem-estar. Estar dentro do padrão de beleza não é, necessariamente, sinônimo de felicidade. O maior sucesso que uma pessoa pode alcançar é ser feliz — considerando, claro, o real sentido de felicidade.
3 maneiras de conviver bem com seu corpo e não sofrer com os estigmas de beleza
Na psicologia, sabemos que a forma como uma pessoa se percebe e se sente em relação ao próprio corpo está profundamente ligada à sua saúde mental, autoestima e senso de identidade. Vivemos em uma sociedade que, historicamente, constrói padrões de beleza rígidos e excludentes — e essa pressão constante pode gerar sentimentos de inadequação, vergonha, culpa e até isolamento social. Muitas vezes, o sofrimento não está no corpo em si, mas no olhar que se aprendeu a lançar sobre ele, um olhar moldado por críticas externas, comparações e expectativas irreais.
Mas a boa notícia é que esse olhar pode ser ressignificado. E isso começa com atitudes práticas, internas e conscientes. A seguir, apresentamos três caminhos possíveis — e profundamente transformadores — para conviver bem com o próprio corpo e se libertar dos estigmas sociais de beleza.
1. Aceite-se: padrões de beleza mudam com o tempo
Padrões mudam com as épocas, culturas e contextos sociais.
Na Roma antiga, curvas eram símbolo de beleza. No Renascimento, isso também era exaltado nas artes. Hoje, vivemos uma ditadura da magreza, da simetria facial, da perfeição digitalizada. O inclusivo se tornou excludente.
2. Valorize o seu biótipo
Aceitar seu corpo é também valorizar o que é seu. Trabalhar a autoestima e a autoimagem não é negligenciar-se — é investir no que você já tem e ressaltar sua beleza única. A verdadeira beleza está na autenticidade. E a sua saúde física e emocional também importa.
3. Busque psicoterapia (se precisar de ajuda)
Se você não consegue romper, sozinho(a), com os padrões impostos, tudo bem.
A psicoterapia pode te ajudar a trabalhar:
- Autoaceitação
- Pertencimento
- Crenças de defeito e inferioridade
- Tristezas profundas ligadas à autoimagem
Mergulhar em sua história é o primeiro passo para se libertar. Em resumo: você não é uma tendência. Você é uma pessoa. Você é único(a). Você tem valor. Você é suficiente. A maior conquista que podemos ter não é o sucesso fabricado dos holofotes, mas a felicidade genuína — aquela que nasce da paz com quem somos.