“Depressão não é covardia é doença emocional: “Um sentimento de falta de sentido para tudo” – Rubem Alves

A depressão e a ansiedade não são sinônimos de fraqueza. Tampouco são consequências de escolhas pessoais. Não podemos decidir se queremos ou não que essas condições nos acompanhem. Não. Os problemas emocionais não funcionam assim, não se trata de “quero sempre me sentir mal e então pego um pouco de tristeza e de ansiedade para ver se me afogo”. Esses não são sinais de fraqueza, nem de fragilidade ou pobreza de espírito. Tampouco são sinais de rendição ou negligência.

De fato, poderíamos dizer que são sinais de luta, de enfrentamento perante as adversidades da vida ou perante situações pessoais muito incômodas e dolorosas, perdas, experiências negativas e incertezas.

A depressão e a ansiedade não são escolhas pessoais

Pode acontecer com todos nós. Um determinado dia nos damos conta de que as coisas perderam o sentindo que tinham, que já não há nada que nos anime ou motive, torna-se difícil levantar-se da cama, um sentimento profundo de tristeza ou irritabilidade aparece.
Ao mesmo tempo pode ocorrer que tudo nos cause agonia ou nos esgote, que nossa respiração acelere de repente e que nos sintamos incapazes de enfrentar a vida de maneira sincera.
De alguma forma nos sentimos derrotados pelas circunstâncias, sem força nem vontade. Esse estado vem e vai, ou está conosco de maneira permanente.
Então começamos a pensar que talvez teríamos que consultar um especialista que nos explique o que está acontecendo, que fomos invadidos por uma profunda tristeza ou uma tremenda inquietação que nos faz sentir incapazes de lidar com o dia a dia. E que quando enfrentamos uma grande perda pessoal é possível que nos deparemos com muitas situações que nos prejudicam e, de repente, algo transborda. Isso nos desmonta, pois não conseguimos compreender nem o que se passa nem porque aquilo está acontecendo.

Como consequência disso, afundamos em um estado de ânimo ansioso, depressivo ou uma mistura de ambos, a partir do qual passamos a evitar ao máximo sair de casa, não nos sentimos bem fora do lar, nem realizando tarefas ou atividades que antes nos pareciam muito satisfatórias, e nem nos relacionando com as pessoas que nos rodeiam, etc.

Então tudo parece insuperável, mas podemos sair desse lugar. Nesse ponto precisamos de ajuda profissional que nos apoie com explicações que tragam coerência emocional à situação, e nos ajude a superá-la. O mais importante é dar o primeiro passo do processo: pedir apoio psicológico para equilibrar nosso estado emocional e curar nossos pensamentos.

Os comentários que nos prejudicam

E nesse último ponto está o objetivo do nosso artigo de hoje: nossa relação com nosso entorno e com as pessoas que nos rodeiam muda. Essa não é uma situação cômoda para ninguém e, de fato, pode ser que nesse momento comecem a aparecer críticas e passem a nos invadir com comentários e atitudes repletas de incompreensão.

  • “Está assim porque quer”;
  • “Anda, levanta e faz algo de útil da sua vida”;
  • “Você é um frouxo ou uma frouxa”;
  • “Você já tem idade para superar essas coisas infantis”;
  • “Não chore, não é pra tanto”;
  • “É muita covardia”;
  • “Que frescura!”;
  • “Isso é falta de Deus”;
  • “Enfrente a vida de uma vez e deixe de besteira”…

Esses tipos de frases alimentam ainda mais a tristeza, a apatia e a ansiedade no dia a dia. Digamos que esses comentários e atitudes se somam aos pensamentos negativos que contaminam nossa mente e, como consequência, a mente e o mundo da pessoa se tornam ainda mais negros.

Evidentemente, isso nos leva de maneira indireta a continuar na inércia e a nos isolar ainda mais em nossa vida, assim como fortalece o círculo vicioso que nos empurra sempre para a armadilha do negativismo. Ao contrário de trazer clareza ao nosso estado e dar informações precisas sobre o que está se passando, nossa atmosfera se torna cada vez mais rarefeita e cada vez mais negativa.
Em nossa sociedade há uma grande crueldade em torno das dores psicológicas e emocionais; estas são consideradas de segunda, terceira ou inclusive quarta posição numa ordem de importância. Na verdade, é muito aterrador o baixo valor que se dá a nossa saúde psicológica.
Do mesmo modo que não nos ocorreria ignorar uma ferida que está inflamada ou que não para de sangrar, uma dor de estômago contínua e aguda, ou uma forte dor de cabeça, não podemos nunca ignorar as dores psicológicas. Devemos dar a importância merecida a nossas feridas emocionais, porque o mal estar psicológico requer um tratamento para uma cura, um trabalho e um apoio que são imprescindíveis para que passe.

Dito de outra maneira, não podemos deixar que o tempo cure porque corremos o risco de que isso não aconteça e de que, pelo contrário, nossas feridas se abram e se inflamem ainda mais, que a infecção se prolifere e aprofunde o nosso problema. Quem dera pudéssemos escolher não ter problemas, desfrutar de cada momento e sempre estar bem. Não podemos, no entanto, evitar e, claro, ninguém está livre do perigo.

O quanto antes compreendermos isso, antes aprenderemos a nos cuidar como merecemos e a não colocar mais lenha na fogueira dos problemas, a não incendiar nossa mente com um diálogo interno proveniente das opiniões sociais que desmerecem e menosprezam nossas emoções e os problemas com os quais nos encontramos, quando nos damos conta de que o mundo, na realidade, não é da cor preferida de todo mundo.

Qual é o primeiro passo quando perceber sintomas de depressão

Os sintomas físicos recorrentes da depressão são: tristeza profunda sem motivo aparente; insônia ou sonolência extrema; falta de apetite extrema; choro involuntário sem motivo aparente; desejo de manter-se isolado e afastado de tudo e de todos; falta de vontade de fazer as coisas que mais gosta de fazer; ideações e desejos suicidas, dentre outras, pois cada indivíduo é único e cada corpo e mente, reage de uma forma.  Mas no geral, os sintomas característicos de depressão são estes.

Ao observar alguns desses sintomas por mais de 15 dias agende com um clínico geral para descartar doenças biológicas, feito isso, procure um psicólogo. Se o psicólogo considerar que você precisa de medicação, vai encaminhá-lo para um psiquiatra. E tudo bem, não se assuste. Tratar a mente e as emoções deve ser normal como ir ao dentista. E tenha sempre em mente que você não é uma pessoa deprimida, você, no momento, está em tratamento contra a depressão. Porque se você fizer o que precisa fazer para ficar bem, certamente ficará.

OBS: O título foi inspirado num excerto do escritor e psicanalista, Rubem Alves, extraído do livro “Pimentas”, página 51. “Um ‘sentimento’ de falta de sentido para tudo é aquilo a que se dá o nome de depressão”.

Portal Raízes

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