A literatura infantil e infantojuvenil, junto com ficção científica e biografias, configuram lugar nobre na minha ‘cadeia alimentar’ literária e, acho, intransferível que o que me salvou foi isso. Minha adolescência foi permeada de abusos e bullying, me vi inúmeras vezes sentada no chão do banheiro chorando em silêncio. Foi assim que passei a me interessar por livros que ficção que pudessem além de me ensinar história e antropologia, matérias obrigatórias, transportassem-me para mundo encantados onde a minha realidade fosse outra. Quando percebi, estava lendo também sobre política, comportamento animal e etc. E foi assim, na ficção, que nasceu o meu amor por história e antropologia.
“Moçambique, década de 1990. Numa terra devastada pela guerra, um menino sem memória é encontrado por um velho errante. Muidinga e Tuahir, ambos marcados por conflitos que não entendem, desprovidos de passado e de esperança. Unidos, fazem de um machimbombo incendiado a sua casa, e de um diário, encontrado junto de um cadáver, a sua demanda. Nas linhas do caderno, Muidinga acredita ter um mapa que o levará de volta à sua mãe. Nessa busca, o insólito par descobre-se, reinventa-se, enfrenta a insanidade e a miséria que grassam em seu redor, e recusa deixar morrer o alento. Tal como a terra que percorrem sem destino, uma terra que nunca dorme, nunca descansa, uma terra sonâmbula.
Já adaptado ao cinema, Terra Sonâmbula foi considerado um dos doze melhores romances do século XX em África. Cruza elementos da cultura tradicional moçambicana com a própria história do país, realismo e magia, factos e símbolos, Terra Sonâmbulaé, acima de tudo, um hino ao poder dos sonhos e da vida.”
Tentei escrever algo melhor que a sinopse do livro, mas ela está tão bem feita e resume tão bem o livro, que acho que a única coisa que posso acrescentar é a total admiração pela forma poética de Mia Couto de nos apresentar muito da história e da cultura de Moçambique, um país que é constantemente esquecido.
É um daqueles livros que todo jovem devia ler, não só para conhecer um pouco dos nomes e costumes de outro lugar, mas para entender dos horrores e consequência da guerra.
“Esta guerra não foi feita para vos tirar do país mas para tirar o país de dentro de vós”
Você conhece a história da Princesa Isabel? Como ela viveu, o que fez e quem eram os familiares da famosa Princesa que aboliu a escravidão no Brasil?
Na escola nós aprendemos sobre a história de nosso país de forma um tanto chata. Depois crescemos e começamos a ficar completamente fascinados com a história de outros povos. Olha a realeza inglesa, olha que lindo a cultura japonesa, e cultivamos um certo preconceito com nossa própria história. Mas qualquer um que queria conhecer mais sobre a vida de nossos Reis e Rainhas, sobre a trama política que o Brasil sempre esteve envolvido, vai perceber que temos não só riqueza de história, mas uma infinidade de pontos para analisar sobre o próprio comportamento humano.
E como incentivar isso em nossos jovens? Usem histórias que misturem ficção, que instiguem adolescentes a procurar saber mais de forma espontânea. Plante a sementinha da curiosidade em corações sedentos por saber o seu lugar no mundo e terás jovens devorando livros de história.
E acho que é exatamente isso que Fábio Yabu traz no seu A Última Princesa, que conta a história da Princesa Isabel, a última a ocupar o lugar de Regente Imperial do Brasil. Temos um livro curto, repleto de história, com uma trama que mistura fantasia para trazer para a porta qualquer um que tenha preconceito com a história do próprio país.
Mangue, palavra estranha. Não falamos sobre isso em mesas, numa discussão acalorada no Facebook ou para puxar assunto.
Esse ecossistema não carrega em si apenas uma diversidade de vida incrível , mas uma infinidade de pessoas que dependem da sua existência para sobreviver. E o livro de Roger Mello, ganhador do prêmio Hans Christian Andersen, Nobel da literatura infantil, conta um pouco da história desse mundo abandonado pelos livros e manchetes.
Quando a Sorte e a Preguiça lançam uma aposta, somos teletransportados para esse mundo cheio de água e comportamento próprio. E aconselhamos não só para abordar história e cultura, mas para discutir conservação ambiental e o estudo da diversidade na costa brasileira.
Quem é Deus? Porque milhões de pessoas acreditam Nele? O que essas religiões tem em comum? Como surgiu o conceito de religião?
Não existe forma de negar a importância da religião em nossa sociedade, ainda mais quando nos percebemos num estado laico regido por partidarismo religioso. Como essa força que move e comove milhões de pessoas, atinge políticas e causam danos positivos e negativos nasceu? Como outros povos percebem conceitos religiosos?
O livro da francesa Catherine Clément nos leva numa viagem por essas questões e a história das religiões do mundo com Théo e Marthe – um garoto com uma doença rara que vive nos livros e uma mulher sofisticada e cosmopolita.
Esse é um dos meus romances históricos preferidos, foi o primeiro livro que me ajudou a entender de forma mais prática o conceito de política e escravidão em Portugal. Os nuances do trabalho escravo é algo muito nebuloso ainda para nós, porque é complicado perceber que escravidão pode morar ao lado da sua casa.
Luís Bernardo Valença, um intelectual, é convidado pelo Rei D. Carlos para assumir o papel de Governador de São Tomé e Príncipe. Sendo um abolicionista, vê ali uma oportunidade de fazer na prática o que já conhecia na teoria, mas descobre exatamente o que todos nós nascemos sabendo por ordem do pessimismo: tudo na prática é imensamente mais difícil.
O primeiro livro Miguel Sousa Tavares, escritor português um tanto duvidoso, nos leva para uma terra distante e esquecida, onde a política caminha por um mar que abriga em suas profundezas os segredos das relações humanas e seus desafios.
Para nós 1984 foi um ano decisivo; foi quando o primeiro Macintosh foi vendido pela Apple, foi quando a primeira mulher caminhou no espaço, a russa Svetlana Savitskaya, foi o ano em que o PDS informou que Trancedo Neves iria concorrer à Presidência da República, enquanto ainda estávamos num regime de ditadura.
Em 1984 o Brasil saia de cara pintada nas ruas gritando por Diretas Já – e George Orwell não sabia em 1948, o ano em que terminou de escrever a última página do seu livro mais famoso, que o povo de um vasto país Latino-americano estaria se rebelando contra um governo autoritário. E nosso escritor imaginaria menos ainda, que mesmo após décadas de terror, uma mesma parcela do povo sairia para as mesmas ruas pedindo a volta da Ditadura Militar.
Acho que 1984 de Orwell fala muito de uma sociedade 4que foi reprimida e eximida de seus direitos; conta a história de como regimes repressivos conseguem impor suas vontades na maioria pelo controle dos meios de comunicação, principalmente da língua. Como podemos quebrar um povo quando restringimos o diálogo e conhecimento?
É a história de Winston, um homem comum que poderia ser qualquer um de nós.
“Escritora multipremiada, com mais de 20 milhões de livros vendidos ao longo da carreira literária, Ana Maria Machado ambienta seu novo romance, Enquanto o dia não chega, entre as aldeias portuguesas e as savanas africanas, chegando a terras brasileiras a bordo de caravelas e navios negreiros.
Escrito para o público juvenil, com ilustrações assinadas por Rodrigo Rosa, o livro conta as aventuras de quatro jovens unidos por um mesmo sonho: o desejo de liberdade.
A autora passou muito tempo pesquisando a história e os costumes do século XVII para escrever um romance histórico cuja trama tem como pano de fundo a formação da cultura brasileira.Ao narrar a trajetória de quatro adolescentes – Manu, Bento, Caiubi e Didi – Ana Maria recria uma jornada que se passa em três cantos diferentes do mundo e tem o Brasil como elo.
O império colonial português, a travessia dos oceanos, a escravização dos povos africanos, a catequese dos índios e os jesuítas, o surgimento dos quilombos, os costumes, os saberes e as tradições dos povos são cuidadosamente incorporados à trama para abordar a reconstrução dessas vidas numa terra nova e distante”.
Esse é um daqueles livros que você começa a ler e quando vê chegou o fim, e você se vê abrindo o computador e pesquisando exaustivamente cada ponto ali colocado. Não é ficção, mas é uma longa viagem por um lugar não explorado: o mar. Foi assim que descobri quase tudo que sei sobre a costa brasileira e claro: o que a Petrobrás está fazendo lá.
“Organizado pelos historiadores Francisco Carlos Teixeira da Silva, Francisco Eduardo Alves de Almeida — professores e pesquisadores da Escola de Guerra Naval — e Karl Schurster — professor da Universidade de Pernambuco —, este livro é uma compilação de estudos que, da Antiguidade Clássica até o século XXI, abordam de forma pormenorizada aspectos históricos, políticos e militares do oceano Atlântico. E por que o Atlântico? O oceano, com seus 106.400.000 quilômetros, deveria, conforme os manuais de geografia, “separar” a Europa das Américas e estas da África. Contudo, desde a Antiguidade, os nautas sabem que oceanos não separam; na verdade, unem terras e gentes. Com o Atlântico não é diferente. Após a longa hegemonia do Mar Mediterrâneo, o Atlântico tornou-se, por quase mil anos, a rota dos povos. Desde a conquista árabe, os jovens estados da Europa Ocidental e seus mercadores e missionários entenderam que o oceano era a única via livre de navegação”.
Esse é um livro complicado para muitos e acho que deve ser a obra mais complexa que li durante a adolescência. Aldous Huxley escreveu esse livro antes da Segunda Guerra Mundial e mesmo assim é atual. É uma história que aborda o entorpecimento.
Como é mais fácil para quem tem o poder que a sociedade não pense, não questione, não sinta. Para manter a linha de produção humana devemos ser seriados e modificados biologicamente para produzir o melhor resultado. Acho que quanto menos falar sobre, mais abertura para novas ideias terá o leitor. Porque é exatamente assim que você se sente ao ler sobre um sistema que inibe e entorpece com drogas, sobre como pessoas atacam e segregam o que é diferente da norma padrão: você quer correr disso.
Durante a leitura é possível se deparar com vários nomes e conceitos, como Henry Ford, o famoso inventor da linha de montagem padronizada para produzir carros; um marco na evolução industrial mundial e o pai do preconceito social que podemos chamar de “trabalho braçal é coisa de gente burra”. Tem também Freud, Marx e outras figurinhas da literatura e política.
Antes desse livro eu não conhecia quase nada sobre a Nigéria; não conseguia nem apontar num mapa com exatidão, porque geralmente não aprendemos sobre a história dos países do Continente Africano, e talvez seja aí que mora o grande problema.
O livro de Chimamanda Ngozi Adichie conta a história do povo da República da Biafra, um autoproclamado estado da Nigéria que tentou sobreviver por três anos. Formado pelo povo Ibo, após o General Yakubu Gowon assumir o comando da Nigéria e dividi-la em 12 estados, a Biafra tentou se manter, mas depois de uma violenta guerra civil, se viu reduzida e reincorporada ao país. Estima-se que mais de 2 milhões de pessoas morreram de fome ou pelos confrontos.
Com personagens incríveis, centrando em duas irmãs gêmeas, cada uma representando as divisões em que a Nigéria se encontrava naquele momento, Chimamanda nos deixa um relato comovente sobre a responsabilidade nossa quando o caos se instara, sobre ideologias, amor e respeito.
É um livro forte, que não conselho para jovens com menos de 14 anos, mas não acho que seja só para adultos, porque quem liga a TV e vê o Jornal hoje em dia no horário nobre tem a mesma visão do horror – só que com doses tendenciosas salpicadas de manipulação.
O que esperar de uma sociedade que queima livros?
O livro de Ray Bradbury nos conta a história de um futuro onde é proibido ler, pensar e acreditar em algo é condenado. Assim conhecemos Guy Montag, um homem comum, bombeiro, leia-se queimador de livros, que acredita que o que faz é correto. A trama gira em torno da transformação de Montag; como acontecimentos vão trazendo a tona fatos inusitados sobe o personagem e a busca do mesmo pelo conhecimento negado.
Acho que esse livro devia ser lido urgentemente nos dias de hoje, principalmente enquanto observamos de longe a luta que é travada por uma educação melhor e justa. O que esperar de uma sociedade que espanca professores?
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