Segundo o economista Daniel Balaban, do Programa Mundial de Alimentos (PMA), será preciso ‘união’ para evitar que país volte ao Mapa da Fome, quando mais de 5% da população enfrenta insegurança alimentar grave.

Daniel Balaban é diretor do Centro de Excelência contra a Fome e representante do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas no Brasil. O prêmio foi anunciado na sexta-feira (09/10) na Noruega, pelo Comitê Nobel, em razão dos esforços da agência “para combater a fome, por sua contribuição para melhorar as condições de paz em áreas afetadas por conflitos e por atuar como uma força motriz em esforços para prevenir o uso da fome como arma de guerra e conflito”.

Em entrevista à BBC News Brasil por telefone, Balaban, diretor do Centro de Excelência contra a Fome e representante do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) no Brasil, afirma que a “luz amarela para fome no Brasil foi acesa” devido “à regressão das políticas sociais” e que será preciso agir rápido para evitar que o país volte ao Mapa da Fome, quando mais de 5% da população enfrenta insegurança alimentar grave.

“Dá para reverter esse quadro se houver união nacional. A própria população brasileira solicitando e fazendo pressão em cima dos entes públicos. E o Nobel foi muito importante para isso, pois lança luz sobre um problema que afeta o mundo e estava um pouco esquecido”, diz.

O IBGE define como insegurança alimentar grave a situação de fome. Nesses casos, há redução severa de alimentos entre as crianças, o que significa ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores do domicílio.

A fome é o maior problema solucionável do mundo. Entretanto, com a concentração de riquezas nas mãos de uma pequena parcela da população, 821 milhões de pessoas passam fome, segundo a ONU. No Brasil 10,3 milhões de pessoas não têm o que comer. Se levarmos em consideração os efeitos da crise sanitária provocada pela Covid-19, a fome no mundo poderá alcançar de 83 a 132 milhões de pessoas a mais.

Em 5 anos, aumentou em cerca de 3 milhões o número de pessoas em situação de fome no Brasil. Com o crescimento, ao todo, cerca de 10,3 milhões de pessoas viviam sem acesso regular à alimentação básica no Brasil. A pesquisa foi realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no período de junho de 2017 a julho de 2018 e divulgada nesta 5ª feira (17/09/2020). Confira os dados na íntegra.

O relatório ‘O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2018′, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), mostrou que a fome aumentou no mundo. No ano passado, 821 milhões de pessoas passavam fome em todo o planeta. Este é o terceiro ano consecutivo com aumento deste número, segundo a FAO.

O relatório cita como as principais causas do avanço da subnutrição a má distribuição de renda, os conflitos armados, as crises econômicas e os fenômenos naturais extremos, como secas e enchentes.

Alguns destaques da pesquisa do IBGE:

  • Dos 68,9 milhões de domicílios no Brasil, 36,7% estavam com algum grau de insegurança alimentar, atingindo 84,9 milhões de pessoas;
  • a prevalência nacional de segurança alimentar (quem não passa por situação de fome) caiu para 63,3%, em 2017-2018, alcançando seu patamar mais baixo;
  • metade das crianças menores de 5 anos do país (ou 6,5 milhões de crianças nessa faixa etária) viviam em domicílios com algum grau de insegurança alimentar;
  • menos da metade dos domicílios do Norte (43,0%) e Nordeste (49,7%) tinham acesso pleno e regular aos alimentos;
  • dos 3,1 milhões de domicílios com insegurança alimentar grave no Brasil, 1,3 milhão estava no Nordeste;
  • mais da metade dos domicílios com insegurança alimentar grave eram chefiados por mulheres.

Foram considerados no levantamento somente os moradores em domicílios permanentes, sendo excluídas as pessoas em situação de rua.

Fome se agrava no mundo e perspectivas para 2020 são sombrias, diz ONU

Quase uma em cada nove pessoas sofreu de desnutrição crônica em 2019, uma proporção que deve se agravar com a pandemia de coronavírus – aponta um relatório anual da ONU – Organização das Nações Unidas, redigido com a colaboração do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Programa Mundial de Alimentos e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso significa claramente que o objetivo (erradicar a fome até 2030, estabelecido pela ONU em 2015) não está no caminho certo”, declarou à AFP Thibault Meilland, analista de políticas da FAO.

Segundo o relatório, é provável que a recessão global causada pelo novo coronavírus leve à fome entre 83 e 132 milhões de pessoas a mais.

Custo da má alimentação: obesos e desnutridos

Entre os pontos de melhoria, a prevalência de atraso de crescimento entre crianças de cinco anos caiu um terço entre 2000 e 2019, com cerca de 21% das crianças afetadas em todo o mundo. Mais de 90% delas vivem na Ásia ou na África. Além da desnutrição, o relatório aponta que um número crescente de pessoas “teve que reduzir a quantidade e a qualidade dos alimentos que consome”. Assim, dois bilhões de pessoas sofrem de “insegurança alimentar”, ou seja, não têm acesso regular a alimentos nutritivos em qualidade e quantidade suficientes, indica.

São ainda mais numerosos (3 bilhões) aqueles que não têm meios para manter uma dieta considerada equilibrada, com, em particular, ingestão suficiente de frutas e legumes. “Em média, uma dieta saudável custa cinco vezes mais do que uma dieta que só atende às necessidades de energia com alimentos ricos em amido”, diz Meilland. Desta forma, a obesidade está aumentando tanto em adultos quanto em crianças.

“O Brasil tem fome de ética e passa fome em consequência da falta de ética na política”. Betinho

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