Psicologia e Comportamento

Expert em psicossomática indica 10 sinais de compulsão alimentar e indica gatilhos e tratamento

De acordo com o Manual de Diagnóstico nº 5, o Transtorno de Compulsão Alimentar é um distúrbio caracterizado por episódios recorrentes de compulsão em se alimentar, seguindo 2 critérios fundamentais: Ingestão, em um curto período de tempo, aproximadamente 2 horas, de uma grande quantidade de alimentos e do sentimento de falta de controle sobre a vontade de comer sem necessidade. Deste modo, compulsão alimentar, é a pessoa se alimentar mesmo que não tenha fome fisiológica.

Na compulsão alimentar alguns gatilhos são motivos específicos para comer, tais como: ansiedade, frustração, estresse, uma má notícia, uma discussão com o parceiro, por exemplo.

Exagerar na alimentação eventualmente não é compulsão

Exagerar na alimentação de vez em quando é normal, principalmente em festividades, caso seja algo pontual, isolado. Os critérios para um diagnóstico preciso de Compulsão alimentar são episódios de comer excessivo no mínimo 2 vezes por semana em um período de pelo menos 3 meses ininterruptos.

No aspecto psicológico, a pessoa não saber manejar sua impulsividade e estados emocionais. Obviamente que durante o dia, temos pequenas variações de humor e isso é normal. Contudo, para quem sofre de Compulsão Alimentar sentimentos como alegria, euforia, tristeza ou uma decepção são motivos para se alimentar em demasia.

Vale a pena salientar que a Compulsão Alimentar pode estar associada a outras comorbidades, como os transtornos de ansiedade, transtornos do impulso, transtorno de humor, bem como de outros transtornos e/outros distúrbios alimentares.

10 sinais de que você pode estar com compulsão alimentar

É claro que há uma série de coisas a serem observadas e para tais é necessário primeiramente passar por um clínico geral para fazer os exames que possam diagnosticar possíveis causas genéticas e biofísicas. Depois de descartar essas hipóteses, podemos observar alguns sinais comuns em pessoas que estão apresentando compulsão alimentar concomitante com desordens psicoemocionais. Dentre eles, destaco os seguintes:

  1. Armazenar alimentos para consumir secretamente mais tarde
  2. Comer com voracidade, não saboreando os alimentos
  3. Comer até sentir dor no estômago, chegando mesmo a vomitar sem que haja indução do vômito
  4. Sentimento de arrependimento, pesar, fracasso, culpa e vergonha após a compulsão
  5. Medo do julgamento social
  6. Incapacidade de parar de comer ou controlar o que é comido
  7. Comer normalmente na presença de outras pessoas, mas se empanturrar quando isolado
  8. Experimentar sentimentos de estresse ou ansiedade que só podem ser aliviados comendo
  9. Sensações de dormência ou falta de sensação durante a compulsão
  10. Nunca experimentando saciedade, não importa a quantidade de comida consumida.

O que você tenta preencher ao comer em demasia?

Por ser subjetiva, a fome dos afetos e das emoções nunca poderá ser satisfeita, a não ser que seja resolvido o que a desencadeia e para cada pessoa estes gatilhos internos e externos são personalizados, não existindo dicas genéricas, receitas prontas ou fórmulas mágicas.

Por outras palavras, a pergunta “o que você tenta preencher ao comer em demasia?” é a mesma para todos, mas as respostas dificilmente serão as mesmas.

Entenda um pouco mais sobre o assunto neste caso clínico: Há alguns meses, uma paciente me procurou por insatisfação com seu corpo, estando muito acima do peso.

Por questões de ética profissional, a identificarei pelo codinome Antônia. Em seu discurso, Antônia trazia a queixa de que tinha uma voracidade por massas e doces e que o ato de comer a tranquilizava.

Porém, este estado de tranquilidade era passageiro, dando espaço à culpa, ansiedade e estados depressivos. Para “acalmar sua ansiedade”, a paciente voltava a comer novamente, o que se caracterizava uma verdadeira “bola-de-neve”, num um ciclo vicioso: “ansiedade, insatisfação com o corpo, ansiedade…”.

Deste modo, Antônia se observava em constante aumento de peso e se aprisionando cada vez mais em uma situação na qual não queria estar, mas que não sabia como sair dela sozinha. Já havia tentado de tudo, inclusive a pior de todas as estratégias: as dietas restritivas, que na verdade não passam de um gatilho extremamente perigoso para o desenvolvimento da compulsão alimentar.

Antônia chegou a fazer vários exames para descartar problemas metabólicos, dentre outras condições clínicas concernentes ao constante aumento de peso, mas não havia nada irregular. O seu hábito de comer em demasia estava diretamente relacionado com estados afetivos e emocionais, os quais ela ainda não havia se dado conta, e nem poderia realmente, sem ajuda qualificada. Antônia então procurava abarcar as suas frustrações, seus anseios, suas situações mal resolvidas, seus estados emocionais negativos, seus conflitos interiores, suas dificuldades afetivas do cotidiano e seu todo o seu vazio existencial numa alimentação desenfreada.

Atualmente Antônia está em franco processo de psicoterapia e também fazendo acompanhamento com uma nutricionista e fazendo aulas de dança duas vezes na semana e correndo três vezes. Ela sempre me diz que a viagem que ela fez em direção a si mesma, foi necessariamente interior e intensa com excelente resultado. E ela repete: “Eu disse interior e não indolor, mas com excelente resultado”.

Tratamento:

O tratamento é multidisciplinar e engloba uma equipe composta por psicólogo, nutricionista, educador físico e psiquiatra.

Em alguns pacientes será necessário a utilização de medicação. A psicoterapia é parte fundamental no tratamento, pois são os estados emocionais que impulsionam a pessoa a comer compulsivamente.

A Terapia Cognitivo-comportamental tem se mostrado muito eficiente para a compreensão e manejo dos estados afetivo-emocionais, da impulsividade e ansiedade. O trabalho a ser realizado consiste em técnicas específicas para a criação de estratégias na regulação e controle dos impulsos, do humor, de sentimentos disfuncionais, mudanças no estilo de vida e padrões comportamentais no tocante à alimentação.

Por este motivo, ressalto a importância do autoconhecimento, da identificação dos gatilhos afetivos, emocionais e comportamentais que levam à compulsão alimentar, bem como das sensações associadas à experiência de comer excessivamente.

É imprescindível observar os aspectos emocionais e conflitos internos a longo prazo que porventura não foram elaborados e ressignificados, bem como dos momentos atuais de sua vida.

Texto da psicoterapeuta, expert em Medicina psicossomática, Soraya Aragão. Saiba mais sobre o seu trabalho aqui.

Soraya Rodrigues de Aragão

Soraya Rodrigues de Aragão é psicóloga, psicotraumatologista, escritora e palestrante. Realizou seus estudos acadêmicos na Unifor e Università di Roma. Equivalência do curso de Psicologia na Itália resultando em Mestrado. Especializou-se em Psicotraumatologia pela A.R.P. de Milão. Especializanda em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde - Universidad San Jorge (Madri) e Sociedad Española de Medicina Psicosomática y Psicoterapia.   Sócia da Sociedade Italiana de Neuropsicofarmacologia e membro da Sociedade Italiana de Neuropsicologia. Autora do livro Fechamento de Ciclo e Renascimento: este é o momento de renovar a sua vida. Edições Vieira da Silva, Lisboa, 2016; e do Livro Digital: "Transtorno do Pânico: Sintomatologia, Diagnóstico, Tratamento, Prevenção e Psicoeducação. É autora do projeto "Consultoria Estratégica em Avaliação Emocional'.

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