As questões da violência contra a mulher, a culpabilização da vítima, a impunidade do agressor, a desigualdade de direitos e o menosprezo pela condição feminina ainda são amplamente debatidas no Brasil no século XXI porque são problemas estruturais profundamente enraizados na cultura, na legislação e nas práticas sociais.
Signe M. Hegestand, psicóloga e autora dinamarquesa, dedicou sua carreira ao estudo dos impactos da violência e do abuso na psique humana. Em seu livro: “Abuso psicológico: como seguir em frente!” (Psychological Abuse – How to move on) ela revela como a violência psicológica pode ser tão devastadora quanto a física, destacando os danos duradouros do abuso emocional, parental e sexual. Segundo Hegestand, a violência contra mulheres não se restringe ao físico, mas se infiltra na identidade, na autoconfiança e na capacidade de reação da vítima, tornando essencial que a sociedade e o Estado reconheçam esses traumas e atuem de forma efetiva.
10 Razões Pelas Quais a Violência Contra a Mulher Ainda é um Problema Estrutural
1. Cultura patriarcal e machismo estrutural
O Brasil tem uma cultura historicamente patriarcal, onde a desigualdade de gênero se perpetua através da naturalização da submissão feminina e da dominação masculina.
2. Naturalização da violência contra a mulher
A violência doméstica e feminicídios ainda são vistos por muitos como “problemas de casal”, impedindo a conscientização sobre a gravidade desses crimes.
3. Culpabilização da vítima
Mulheres agredidas frequentemente enfrentam julgamentos sociais que as responsabilizam pela violência sofrida, dificultando denúncias e perpetuando o ciclo de abuso.
4. Impunidade e falhas no sistema de justiça
Apesar de avanços legislativos, muitos casos são negligenciados, e agressores continuam livres para reincidir, enquanto vítimas permanecem desamparadas.
5. Falta de políticas públicas eficazes e orçamento reduzido
A carência de casas-abrigo, delegacias especializadas e programas de suporte impede que muitas mulheres tenham meios reais para sair da situação de violência.
6. Disparidade salarial e desigualdade econômica
A dependência financeira impede que mulheres abandonem relações abusivas, tornando-se um fator determinante na permanência no ciclo de violência.
7. Influência de discursos conservadores e antifeministas
Ideologias que minimizam ou ridicularizam o feminismo dificultam a criação de políticas eficazes e reforçam estereótipos que normalizam a violência.
8. Educação deficiente sobre igualdade de gênero
A ausência de educação sobre respeito, consentimento e equidade desde a infância perpetua comportamentos abusivos na vida adulta.
9. Sub-representação feminina no poder
A baixa presença de mulheres em cargos de decisão prejudica a formulação e a implementação de políticas públicas que protejam vítimas de violência.
10. Resistência à mudança e perpetuação de privilégios masculinos
O avanço dos direitos das mulheres desafia estruturas de poder que historicamente beneficiam os homens, gerando resistência e dificultando a transformação social.
Como Falar Sobre Violência e Como Enfrentar Abusos
Signe M. Hegestand enfatiza que o silêncio é um dos maiores aliados do agressor e que a chave para combater a violência está no reconhecimento, na denúncia e no suporte às vítimas. De acordo com seus estudos, enfrentar abusos físicos, psicológicos, parentais e sexuais exige uma abordagem multidisciplinar que envolve tanto o fortalecimento individual quanto a atuação do Estado e da sociedade.
1. Como pedir ajuda?
- Procurar redes de apoio, como amigos, familiares de confiança e grupos de suporte
- Denunciar ao Disque 180 ou diretamente às delegacias especializadas
- Buscar acompanhamento psicológico para lidar com os traumas e recuperar a autonomia emocional
2. Como ajudar mulheres em situação de violência?
- Validar os relatos da vítima, sem julgamentos ou perguntas que reforcem a culpa
- Oferecer informações sobre locais de acolhimento e apoio jurídico
- Não pressionar a vítima a tomar decisões imediatas, mas estar presente e disponível.
3. O verdadeiro papel da sociedade e do Estado
- Criar e fortalecer políticas públicas que garantam suporte real às vítimas e punição rigorosa aos agressores.
- Implementar programas educacionais sobre equidade de gênero e violência doméstica desde a infância.
- Investir na formação de profissionais capacitados para atender vítimas de abuso com acolhimento e eficácia.
4. A punição do agressor deveria ser imediata, inafiançável e imprescritível
Hegestand defende que crimes de violência contra mulheres, principalmente os que envolvem abuso físico, psicológico e sexual, devem ser considerados “crimes hediondos”, com penas rigorosas, sem possibilidade de fiança ou prescrição. A impunidade é um dos principais combustíveis da violência e, enquanto o sistema permitir que agressores saiam ilesos, o ciclo de abusos continuará.
A erradicação da violência contra a mulher não depende apenas de leis e punições, mas de uma mudança cultural profunda, que começa no reconhecimento de que nenhuma forma de abuso pode ser normalizada ou relativizada.
Fontes para Consulta
- Brasil. Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006)
- Atlas da Violência 2024 – Relatório do IPEA sobre violência de gênero no Brasil
- Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) – Dados sobre feminicídio e violência doméstica. Disponível em: www.forumseguranca.org.br
- Relatório da ONU Mulheres Brasil sobre Violência de Gênero (2023) – Disponível em: www.onumulheres.org.br
- Cartilha Direitos das Mulheres
- Livro “Maria da Penha e os crimes contra a Mulher” – Maria Berenice Dias
- Artigo: As Raízes da Violência de Gênero no Brasil”
- Livro “Esperança feminista” – Debora Diniz
- Instituto Patrícia Galvão
- Comparativo Nacional de Violência Contra a Mulher
- Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos